Óscar Felgueiras defende criação do indicador “incidência vizinha”
Objetivo é evitar a sobrevalorização de surtos em pequenos concelhos e avaliar o risco global da zona próxima do concelho de risco.
O matemático Óscar Felgueiras defendeu a criação de um novo indicador, “incidência vizinha”, que teria como vantagens sinalizar risco associado à proximidade de zonas mais críticas e evitar a sobrevalorização de surtos em pequenos concelhos.
Na sua intervenção por videoconferência na reunião do Infarmed, em Lisboa, sobre a situação epidemiológica do país, que reuniu especialistas e líderes políticos, Óscar Felgueiras adiantou que o indicador de risco local que tem sido privilegiado para adoção de medidas tem sido a incidência concelhia a 14 dias.
Para o professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, “um dos problemas da consideração da incidência concelhia como indicador único é por vezes haver pequenos concelhos onde o número de casos não é muito grande, mas é o suficiente para ter a incidência muito alta”.
Analisando um mapa com as incidências concelhias nos vários concelhos, entre 27 de março e 10 de abril, Óscar Felgueiras afirmou que há alguns concelhos a vermelho, acima de 240 por 100 mil habitantes e também a laranja, entre os 120 e 240 casos por 100 mil habitantes.
Para explicar a importância do novo indicador, Óscar Felgueiras deu como exemplo o caso de Vimioso (distrito de Bragança), norte do país, que tem uma incidência de covid-19 de 249 casos para uma população de quatro mil habitantes.
“Mas se tivermos em consideração a sua vizinhança, Vimioso tem quatro concelhos vizinhos {Mirando do Douro, Mogadouro, Macedo de Cavaleiro e Bragança] reparamos que nesta região circundante existem 36 casos para 67 mil habitantes”, adiantou.
O investigador adiantou que se se considerasse “esta região por inteiro” registava-se uma incidência de 53 casos por 100 mil habitante, “significativamente abaixo daquela incidência localizada em Vimioso”.
“Podemos então pensar em definir aqui um indicador que seria incidência vizinha do concelho em questão, tomando exatamente a mesma definição que tomamos para a incidência do concelho, ou seja, os casos em 14 dias por 100 mil habitantes, e neste caso teríamos Vimioso com uma incidência elevada e uma incidência vizinha significativamente mais reduzida”, salientou.
Como vantagens da “incidência vizinha”, apontou “o sinalizar o risco associado à proximidade de zonas mais críticas”, evitar a sobrevalorização de surtos em pequenos concelhos se o contexto circundante não justifica, é o exemplo do Vimioso, e favorecer uma maior continuidade geográfica neste indicador.
No entanto, advertiu, “existe também uma desvantagem que é uma eventual excessiva suavização do risco” que poderá ser evitada com uma média ponderada entre o indicador concelhio e o da vizinhança.
“Não tem como objetivo fazer uma previsão pura, mas sinalizar zonas de risco”, explicou.
Segundo o especialista, o indicador “incidência vizinha” pretende ser “uma métrica acessível que traduza o risco de proximidade e mobilidade esperada entre concelhos” e “uma ferramenta para implementar medidas de saúde pública preventivas e servir também como complemento ao indicador mais preciso que tem sido a incidência concelhia que determina zonas de reação”.
“Perante uma subida súbita da incidência, deve-se atuar de forma reativa, testar, rastrear, isolar” e “em concelhos vizinhos que tenham uma incidência ajustada elevada também se justifica provavelmente haver alguma prevenção”, defendeu.
LUSA
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