31 Mai, 2023

“Os novos fármacos vieram alterar o paradigma do tratamento da diabetes mellitus”

Foi já este ano que se deu a conhecer a revisão às guidelines luso-brasileiras sobre o tratamento da diabetes mellitus. O endocrinologista Jácome de Castro realça a sua importância.

O que trazem de novo as guidelines luso-brasileiras sobre o tratamento diabetes mellitus (DM)?
As guidelines têm como tónica essencial tratar as pessoas com DM de acordo com objetivos rigorosos e individualizados. É preciso definir objetivos para cada pessoa, de acordo com a sua idade, as condições vida, as comorbilidades, a forma  que adere à terapêutica, entre outros aspetos. Apenas após a definição desses objetivos devemos escolher a terapêutica mais adequada, com finalidade de aumentar anos de vida e com qualidade.

Os novos fármacos têm vindo a alterar o paradigma do tratamento da DM, porque não só ajudam a controlar a glicemia de forma mais eficaz e segura, como contribuem para controlar os fatores de risco cardiovascular e ainda reduzem as temíveis complicações renais e cardíacas.

Sabemos que as pessoas com DM vão morrer mais cedo, devido a doença cérebro ou cardiovascular e a insuficiência renal, entre outras causas. No fundo, o que queremos é evitar que isso aconteça.

 

“É preciso definir objetivos para cada pessoa”

 

Qual a prevalência destas patologias nas pessoas com diabetes?
Em Portugal, estima-se que 10 a 15% da população adulta tenha diabetes e que acima dos 65 anos mais de um quarto da população seja diabética. Além disso, mais de 25% dos portugueses tem pré-diabetes. São números de facto  impressionantes! Acresce que cerca de um terço das pessoas com DM não estão diagnosticadas e que, para além disso, se estima que cerca de 30% dos diabéticos tratados não estejam a atingir os objetivos desejados. E isto é tanto mais importante quanto o impacto desta patologia, nomeadamente no aparelho cardiovascular, existindo uma maior propensão para insuficiência cardíaca.

A DM afeta igualmente outros órgãos como o rim, sendo mesmo a primeira causa de insuficiência renal terminal no nosso país. A DM é também a primeira causa de cegueira e de amputação não traumática. Além disso, mais de 90% dos diabéticos tem excesso de peso ou obesidade e cerca de 80% tem HTA e ou hipercolesterolemia.

Nos últimos anos têm surgido fármacos que não se limitam a controlar a DM e os fatores de risco associados. São medicamentos que, só por si, são modificadores do prognóstico e diminuem o internamento e a mortalidade dos diabéticos por doença cardíaca e renal. As sociedades científicas, face a esta evolução, sentiram necessidade de atualizar as suas recomendações terapêuticas.

 

Então, atualmente, o prognóstico é melhor
Os novos fármacos  têm de facto mostrado resultados muito bons e promissores. São eficazes e seguros e permitem controlar a DM e os fatores de risco cardiovasculares associados (em particular o peso e a HTA), para além de modificarem o prognóstico da doença cardiovascular e renal. Reduzem, assim, os (re)internamentos e a morte por insuficiência cardíaca, insuficiência renal, doença cardíaca isquémica. O paradigma mudou completamente.

Tudo isto veio revolucionar a forma como hoje tratamos os nossos doentes com DM. É essencial promover a sensibilização de médicos e doentes para que em conjunto se definam objetivos personalizados e se escolham as terapêuticas mais adequadas. Tudo isto o mais precocemente possível na história natural da doença. Havendo diagnóstico atempado, é hoje possível com os novos fármacos, que também ajudam significativamente na perda de peso, conseguir que uma pessoa com excesso de peso e DM possa vir a entrar em remissão.

 

Texto: Maria João Garcia

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