15 Mai, 2018

Ordem dos médicos diz que Hospital dos Covões tem serviços de cirurgia em risco. Administração desmente

A Ordem alerta para o risco de a equipa de cirurgia do serviço não conseguir sequer "cumprir os requisitos mínimos" definidos pelo colégio de especialidade, a partir de junho. Situação agravou-se com a ausência de concurso para cirurgiões recém-especialistas. Administração rejeita o alerta e garante que os médicos de um pólo hospitalar dão apoio a outros.

A Ordem dos Médicos afirmou esta segunda-feira que a urgência do Hospital dos Covões, em Coimbra, está sem capacidade de resposta da cirurgia em alguns turnos e, a partir de junho, ficará em risco de não cumprir requisitos mínimos.

O Serviço de Urgência do Hospital dos Covões, que integra o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), “está sem capacidade de resposta nalguns turnos de cirurgia”, denunciou a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), em nota de imprensa enviada à agência Lusa, onde alerta também para o risco de a equipa de cirurgia do serviço não conseguir sequer “cumprir os requisitos mínimos” definidos pelo colégio de especialidade, a partir de junho.

“Já há dias em que a escala é constituída apenas por um especialista e um interno. E, durante a noite, apenas está escalado um cirurgião”, afirma o presidente da SRCOM, Carlos Cortes, citado na nota.

Segundo a SRCOM, o Colégio de Cirurgia da Ordem dos Médicos estabelece um número mínimo de três especialistas na equipa de cirurgia geral na urgência. Para Carlos Cortes, o que se está a passar no Hospital dos Covões é a destruição de “um polo importante da saúde em Coimbra, que merecia ser valorizado”.

Na nota em que a secção regional condena “as graves irregularidades” no serviço de cirurgia, é pedido ao Ministério da Saúde que ponha “cobro a esta situação alarmante”. “Esta é uma situação gravosa para os doentes. A inexistência de uma escala completa de cirurgiões na urgência deste hospital constitui uma ameaça para a população. Deixar de ter médicos para operar em situações urgentes ou emergentes não é digna de um serviço de urgência de um país civilizado”, sublinha Carlos Cortes, considerando que, pouco a pouco, o Hospital dos Covões “está a ser esvaziado das suas valências”.

Segundo presidente da SRCOM, a situação na urgência agravou-se agora “com a ausência de concurso para os dois cirurgiões recém-especialistas”, o que poderá ter como resultado o não cumprimento dos requisitos mínimos já a partir de junho para o serviço de urgência daquele hospital, situado na margem esquerda do Mondego.

De acordo com a nota, estão a ser desencadeados os procedimentos para verificar se o serviço “poderá continuar a servir os doentes”.

Para Carlos Cortes, esta situação “é apenas uma das partes visíveis das tremendas dificuldades naquela unidade do CHUC”, considerando que o problema de base centra-se no desaparecimento de um hospital inteiro, “quando se deveria ter mais ambição e aproveitar as instalações de modo a oferecer mais cuidados diferenciados e alargados”.

Administração garante que atendimento é integrado

Contactada pela Lusa, a administração do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) rejeitou hoje que a urgência do Hospital Geral (Covões) esteja sem capacidade de resposta da cirurgia em alguns turnos, como denunciou a Ordem dos Médicos.

A administração do CHUC garante que a segurança dos doentes não está em risco, “como se pode comprovar pelo total de cirurgiões incluídos nas escalas de urgência do CHUC, de que o polo Hospital Geral (Covões) faz parte”. “Também não está ameaçada face ao modo integrado como a Urgência do CHUC funciona”, lê-se no comunicado.

O conselho de administração do CHUC, liderado por Fernando Regateiro, explicou hoje que “as escalas das diversas especialidades são escalas da urgência polivalente do CHUC, independentemente da distribuição de tarefas ou locais de exercício”.

“Os médicos de um polo hospitalar dão apoio a outros polos, pois este atendimento é integrado, e não visto em separado, independentemente da estrutura local de cada polo”, esclarece.

De acordo com a administração, o polo de urgência geral de adultos situado no Hospital Geral, aberto diariamente das 09:00 às 22:00, “é complementar ao polo central situado nos Hospitais da Universidade de Coimbra”.

A urgência polivalente do CHUC encontra-se dispersa fisicamente, integrando uma urgência geral de adultos com dois polos – Hospitais da Universidade de Coimbra e Hospital Geral (Covões) – uma urgência geral pediátrica e uma urgência obstétrica também com dois polos – Maternidade Bissaya Barreto e Maternidade Daniel de Matos”.

“É este o enquadramento do serviço de urgência do CHUC e não outro, prévio à criação desta instituição”, refere o comunicado. Segundo o conselho de administração, não se pode falar em rutura “quando na urgência do CHUC, globalmente considerada, existe um número de elementos acima do indicado, mesmo que haja uma falta pontual de um elemento em qualquer dos polos”.

“No serviço à urgência de adultos do CHUC, podemos informar que a escala tipo na urgência externa é de nove médicos durante o dia (cinco especialistas e quatro internos) e de oito médicos (cinco especialistas e três internos) durante a noite, sem contabilizar os médicos de urgência interna”, refere.

A administração acrescenta ainda que, “este número, ainda que referente a dois polos, é muito relevante, mesmo para uma urgência polivalente de um hospital central”.

LUSA

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