23 Nov, 2023

Oncologia. “A Inteligência Artificial não é inteligente”

"Inteligência Artificial em Oncologia" é um dos temas abordados no 20.º Congresso Nacional de Oncologia. O foco são os desafios e as limitações de uma nova era na Medicina.

Virginia Dignum é professora de Responsible Artificial Intelligence na Umeå University, na Suécia, e, apesar das mais-valias da Inteligência Artificial (IA), fez questão de deixar claro que “a IA não é inteligente”. Começando por lembrar a sua importância na cirurgia robótica, na interconecção de dados, na educação médica, entre outros, realçou que é preciso estabelecer metas.

“A IA pode ser comparada a um carro que segue sem cintos de segurança, sem travões, com um condutor que não tem carta de condução; é preciso começar a decidir quais são os travões”, defendeu. A investigadora frisou que a IA funciona no que diz respeito à correlação de dados, mas o mesmo não acontece na causalidade. “É muito mais complicado.”

Virginia Dignum argumentou ainda que é preciso estar atento aos riscos associados, nomeadamente com o ChatGPT, acessível a mais utilizadores. “A regulamentação é essencial para que se dê um bom uso à IA na área da Saúde.” A palestrante alertou também para as desigualdades que as novas tecnologias podem trazer, nomeadamente nos países em vias de desenvolvimento, mais pobres, que poderão ter grandes dificuldades em acompanhar esta evolução.

Na mesa-redonda sobre IA participaram outros oradores, que também chamaram a atenção para a importância da regulação, como Richard Lee, responsável por uma investigação do Royal Marsden NHS Foundation Trust e do Imperial College London (Reino Unido), que permitiu criar uma ferramenta de IA capaz de prever com precisão a probabilidade de recidiva de cancros.

O investigador falou das mais-valias da mesma e de como pode fazer a diferença na vida dos doentes e até no trabalho dos profissionais de saúde. No final abordou ainda as limitações e os desafios da IA atualmente, nomeadamente a sua reprodutibilidade e generalização.

Luís Correia Pinheiro, especialista em Farmacoepidemiologia, foi mais um dos intervenientes. Após falar sobre os benefícios da IA, sublinhou que é preciso não esquecer a responsabilidade ética, técnica e científica, sendo necessário apostar na regulação.

O radiologista João Abrantes, do Centro Hospitalar Trás-Os-Montes e Alto Douro, corroborou os colegas, destacando as vantagens da IA e frisou que, mesmo no caso dos rastreios ao cancro da mama, por exemplo, tem-se registado uma diminuição significativa de falsos positivos. Na área de Imagiologia, as mais-valias são muitas, como salientou, sobretudo na qualidade da imagem e na produtividade.

Contudo, disse, “um dos problemas atuais é que os sistemas informáticos dos nossos hospitais não estão preparados para esta mudança”. Alerta ainda para a questão do financiamento.

A sessão foi moderada pela pneumologista Gabriela Fernandes e pelo radiologista José Carlos Marques.

MJG

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