O peso da obesidade no esqueleto
Cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo; coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e do Grupo Trofa Saúde; professor da FMUP; investigador clínico na área da Cirurgia Metabólica e Obesidade

O peso da obesidade no esqueleto

A ligação entre obesidade e saúde ortopédica é uma realidade que importa compreender. O excesso de peso corporal vai aumentar o stresse sobre as articulações, ossos e músculos. As principais áreas de risco são as estruturas que suportam o peso corporal, como a anca, joelho, pé e coluna vertebral. Essas articulações suportam a maior parte do peso corporal e, quando esse peso é excessivo, o desgaste das cartilagens e dos tecidos moles aumenta significativamente.

O peso excessivo exerce muita pressão sobre as articulações, o que, ao longo do tempo, vai acelerar a degeneração das articulações e aumentar o risco de inflamação articular, provocando dor, rigidez e redução da mobilidade. Estudos demonstram que a obesidade pode multiplicar o risco de osteoartrite em até quatro vezes, em comparação com indivíduos de peso normal.

A nível da coluna vertebral, a obesidade pode perturbar o alinhamento natural das vértebras, originando patologia estrutural como hérnias discais ou apertos (estenoses) das raízes nervosas. O excesso de peso leva ao desgaste dos discos intervertebrais e ao enfraquecimento das estruturas que sustentam a coluna.

Além dos efeitos mecânicos, a obesidade está relacionada com alterações metabólicas que afetam a saúde óssea. A inflamação crónica de baixo grau e o desequilíbrio de hormonas que regulam o metabolismo ósseo vai comprometer a estrutura da matriz óssea, aumentando o risco de osteoporose e consequentes fraturas. Estes efeitos hormonais justificam que, mesmo em articulações que não suportam o peso esquelético (como o ombro, p. ex.), o risco de lesões é consideravelmente maior em doentes com obesidade.

Assim, o tratamento inicial para qualquer patologia do esqueleto é a perda de peso. A diminuição do peso vai reduzir a agressão sobre as estruturas osteoarticulares e, assim, diminuir a progressão da doença. Em muitas situações, a patologia articular pode necessitar de intervenções cirúrgicas. O prognóstico destas cirurgias também melhora com a perda de peso. Não só devido ao “stresse” mecânico induzido nas estruturas por suportarem maior peso, mas também porque a obesidade prejudica a cicatrização dos tecidos por diminuição do fluxo sanguíneo e a oxigenação. Aumenta ainda o risco de infeção, de não cicatrização dos tecidos e de não incorporação de próteses.

Além do mais, a própria presença de tecido adiposo em excesso dificulta as condições locais da intervenção ortopédica, tornando a cirurgia mais complexa e demorada. A presença de outras doenças habitualmente associadas à obesidade (diabetes tipo 2, hipertensão arterial, doença coronária, etc.) pode afetar o período pré e pós-operatório, o risco anestésico e o resultado cirúrgico.

A melhor forma de evitar o agravamento de problemas ortopédicos é ter uma vida saudável, uma boa alimentação, diminuir o peso e praticar regularmente exercício físico. A prática regular de exercício físico é fundamental, pois ajuda a fortalecer os ossos e as articulações, além de melhorar a mobilidade e reduzir a dor. Exercícios de baixo impacto, como natação e ciclismo, são especialmente recomendados.

Nos doentes com obesidade, submetidos a cirurgia metabólica, existe muitas vezes um alívio dos sintomas osteoarticulares, devido à significativa diminuição do peso e uma melhoria do perfil de risco de outras intervenções que possam ser necessárias, pelo controlo das doenças associadas à obesidade.

É, portanto, fundamental compreender mais um dos impactos da obesidade na saúde e reconhecer a importância de utilizar todos os tratamentos disponíveis para controlo da obesidade, como forma de melhorar a qualidade de vida dos doentes e o prognóstico de doenças associadas.

 

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