“O idadismo é, talvez, o último ‘ismo’ aceite pela sociedade”
Manuel Carrageta, presidente da Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia (SPGG), falou sobre o problema do idadismo no 44.º Congresso Português de Geriatria e Gerontologia.
Legenda: Frederico Teixeira, Maria João Quintela, Manuel Carrageta, María Ángeles García Antón e Pedro Moura Reis
“A idade não é o mais importante. A discriminação com a idade, o idadismo, é o talvez o último ‘ismo’ aceite pela sociedade”, afirmou Manuel Carrageta, na sessão de abertura do Congresso da SPGG.
O responsável realçou, ainda, que Portugal, de acordo com dados recentes do Eurostat, tem um grau de discriminação em relação à idade de 48%, ou seja, acima da média europeia. “O idadismo, tal como outros ismos, baseia-se em generalizações sobre pessoas em função de caraterísticas exteriores. No fundo, as pessoas são julgadas não pelas suas capacidades, mas pela sua idade. Tornam-se, assim, vítimas de discriminação no emprego, na educação e do próprio Estado.”
O médico lembrou que a OMS define o idadismo como os estereótipos (como pensamos), os preconceitos (como atuamos) e a discriminação (como agimos) em relação a outras pessoas, com base na idade. “É evidente para todos que o idadismo existe em toda a parte, desde os locais de trabalho aos sistemas de saúde, aos espetáculos, aos media e anúncios”, acrescentou.
A imagem negativa dos mais idosos é um fenómeno que já existe há alguns anos, como tem ficado demonstrado em diferentes estudos, logo, segundo o responsável, o idadismo tem impacto na saúde e na esperança média de vida.
No final da sua intervenção deixou, ainda, a mensagem da necessidade de se apostar na Geriatria e na Gerontologia para se prevenir condições como solidão e fragilidade. “Um dos objetivos mais nobres da SPGG é enfrentar a prática do idadismo e permitir que as pessoas mais velhas possam pôr em prática todo o seu potencial.”
Este trabalho deve incluir todos os stakeholders que trabalham na área, como acrescentou Maria João Quintela, vice-presidente da SPGG.
Carla Marques Mendes, Secretária de Estado da Ação Social e da Inclusão, também marcou presença no Congresso. A trabalhar num conjunto de matérias relacionadas com uma estratégia da longevidade, “que veja a pessoa no seu todo”. “Temos que ser honestos e admitir que ainda temos muito a fazer, porque temos serviços que não são capazes de responder às exigências do envelhecimento da sociedade”, reconheceu.
Enfatizou, ainda, o trabalho que a Secretaria tem feito em colaboração com a Segurança Social e a Saúde. “Estamos a trabalhar numa forma de olhar para as respostas sociais e cuidados. Não há nada para inventar, mas é preciso que haja articulação”, defendeu.
A governante falou também da criação do Estatuto do Idoso e da alteração do Estatuto do Cuidador Informal, que permite que este não seja apenas o familiar mais direto. E pediu, ainda, aos responsáveis pelo evento para elaborarem um conjunto de reflexões, no sentido de as partilharem com a Secretaria de Estado, já que são os intervenientes no terreno que conhecem “os anseios e dificuldades” desta área.
Carla Marques Mendes fez também questão de lembrar que é preciso começar a preparar o envelhecimento desde cedo. Dando como exemplo o problema da solidão, salientou que esse problema afeta velhos e novos.
O Congresso decorre entre hoje e amanhã, em Lisboa, conta com 400 participantes e tem como temática central “A idade não é importante”.
MJG