30 Jan, 2023

Número de internamentos e mortes causados pelo álcool estão a aumentar desde 2017

Metade das mortes ocorrem em indivíduos com menos de 65 anos. Portugal é o país da União Europeia com o consumo de álcool mais elevado. Trata-se de um “problema muito sério para sociedade”, diz, em entrevista, José Presa, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado.

Qual a dimensão atual do consumo de álcool em Portugal e como se explica que o nosso país esteja na primeira posição a nível europeu neste indicador?

Penso que os números falam por si com 12,1l de álcool per capita ano, o que nos posiciona numa média bem acima da OCDE. Somos um país produtor de vinho, mas surpreendentemente nem somos dos maiores produtores europeus, mas mesmo assim conseguimos este feito verdadeiramente incrível, pela negativa. O consumo de álcool em Portugal tem muito de cultural e isso vê-se mais nas regiões rurais. Depois temos enraizado o hábito de conviver à mesa com boa comida, mas sempre acompanhada com bebida.

Que impacto tem o consumo de bebidas alcoólicas no desenvolvimento das doenças hepáticas crónicas? A partir de que patamar de consumo o risco aumenta mais?

Em Portugal o consumo de bebidas alcoólicas, não importa o tipo de bebida, ainda é a principal causa de doença hepática. Existe uma quantidade mínima? Bem, na verdade qualquer quantidade é suficiente para produzir doença hepática quando prolongada no tempo. Não podemos, nem devemos esquecer que o sexo feminino tolera menores quantidades de álcool ingeridas. Aproveito para chamar a atenção de que no último relatório do SICAD, 30% das crianças na faixa etária dos 13 anos já tiveram algum contacto com bebidas alcoólicas.

Que doenças hepáticas podem ser desencadeadas pelo consumo excessivo de álcool e qual a mais preocupante?

Começa pela acumulação de gordura no fígado, que se chama de esteatose hepática, e se mantivermos os consumos, evolui para formas mais avançadas de doença, como hepatite alcoólica, cirrose hepática e por fim o carcinoma hepatocelular. Todas estas condições clínicas, com exceção da esteatose hepática, podem ameaçar a vida dos consumidores de bebidas alcoólicas

Como está a evoluir a incidência de cirrose em Portugal e que impacto pode esta doença ter na qualidade de vida?

Este valor não sabemos ao certo, mas parece haver nos últimos anos uma tendência para uma diminuição em especial do número de casos internados, mortalidade e possíveis anos de vida perdidos até 2017.

De qualquer modo convém realçar que, de acordo com o último relatório do SICAD, em 2020 houve cerca de 37.000 internamentos atribuíveis ao álcool e cerca de 2.500 mortes também relacionadas com o álcool, tendência que se tem vindo a agravar pelo menos desde 2017. De referir que 50% destas mortes ocorrem em indivíduos com menos de 65 anos.  Estamos, portanto, a falar de um problema muito sério para sociedade.

SO

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