Novas Substâncias Psicoativas são detetadas todos os anos em Portugal

Estas substâncias são, explicam os especialistas, bastantes tóxicas para o organismo humano, e são criadas através de alterações moleculares, que não necessitam de grandes conhecimentos químicos, nem implicam grande investimento em apetrechados laboratórios

Todos os anos são detetadas em Portugal Novas Substâncias Psicoativas (NSP), um perigo para a saúde que não acabou com o encerramento das ‘smartshops’ e que tem agora na internet um terreno fértil para a venda, alertam especialistas.

A Polícia Judiciária realizou ontem uma ação de formação sobre NSP e foi visível a preocupação dos especialistas do Laboratório de Polícia Científica (LPC), do Instituto Nacional de Medicina Legal e de duas faculdades, do Porto e de Lisboa, sobre o consumo destas substâncias.

O ano passado, o LPC detetou 70 novas substâncias psicoativas ilícitas, tendo sete delas sido consideradas drogas sintéticas em março deste ano. As NSP continuam a aparecer nos mercados ilícitos e na Internet, 96% das transações fazem-se na ‘deep web’ (a parte oculta e anónima da Internet), e os produtos detetados nos laboratórios são cada vez mais puros. Atualmente o observatório europeu da droga e da toxicodependência tem uma listagem de 600 NSP.

Segundo Helena Gaspar, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, “aparecem em média duas NSP por semana, sendo necessário uma resposta mais rápida para prevenir os riscos de saúde pública associados ao consumo.

O professor Félix Monteiro, da Faculdade de Farmácia do Porto, colocou a tónica nos perigosos efeitos dos canabinoides sintéticos e na imprevisibilidade dos efeitos das NSP. “Entre os canabinoides sintéticos há 14 famílias diferentes com grande grau de toxicidade, havendo já casos de morte registados”, disse.

Entre os efeitos dos canabinoides sintéticos, Félix Carvalho destacou os pensamentos suicidas, psicose, convulsões, alucinações e perda total de memória, podendo mesmo provocar a morte. “A sobredosagem dos canabinóides naturais não provoca a morte, o consumo dos sintéticos pode provocar”, frisou.

Muitas destas substâncias, alertou, podem ser fumadas, por exemplo em cigarros eletrónicos, provocando grande dependência e efeitos nefastos para a saúde.

Carlos Farinha, diretor do Laboratório Polícia Científica da PJ, chamou a atenção para o elevado grau de mutabilidade das substâncias e para a potenciação dos efeitos das mesmas, considerando ser necessário manter o nível de alerta.

“É necessário reforçar a fiabilidade dos sistemas de deteção. Parece pouco provável que com o simples fecho das ‘smartshops’ se tenha apagado o problema gerado por estas substâncias. Ele tem-se é manifestado a um nível menos evidente”, disse.

João Goulão, diretor do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), estava na plateia e alertou para o facto de após o encerramento das ‘smartshops’ em 2013 deixarem de existir registos de idas de pessoas às urgências hospitalares por consumo de NSP, algo que deve ser repensado, dado que o consumo das mesmas não acabou.

LUSA/SO/SF

 

Gedeon Richter

 

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