Mulheres “podem ficar tranquilas” sobre terapêutica hormonal na menopausa

A médica ginecologista Fernanda Geraldes desvaloriza o estudo recentemente publicado sobre relação entre THM e cancro da mama.

O uso da terapêutica hormonal vai ser um dos temas em debate na conferência “Mulheres Sem Pausa”, que se realiza na terça-feira para assinalar o Dia da Menopausa, celebrado a 18 de outubro.

“O debate de conceitos e clarificação de ideias numa altura em que perante algumas notícias alarmistas sobre a abordagem terapêutica da menopausa têm sido divulgadas pelos ‘media’, falar a mesma linguagem pode ser importante na promoção da saúde física e mental da mulher na menopausa”, disse hoje à agência Lusa a presidente da Secção de Menopausa da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG), Fernanda Geraldes.

Recentemente foi publicado um estudo na revista científica “The Lancet”, que envolveu mais de 100 mil mulheres, que aponta uma relação direta entre o uso da terapêutica hormonal (TH) na menopausa e o aparecimento do cancro da mama.

A médica ginecologista adiantou que, após a publicação do estudo, a Secção Portuguesa de Menopausa, à semelhança das suas congéneres internacionais, fez uma reflexão sobre o estudo, afirmando que “é uma meta análise de 58 artigos publicados desde janeiro de 1992 a janeiro de 2018 sobre TH e cancro da mama (na sua maioria estudos observacionais), não se tratando pois de nenhum novo estudo randomizado, prospetivo ou observacional”.

Segundo Fernanda Geraldes, este estudo não acrescenta nada de novo ao que já era conhecido até agora.

Os especialistas afirmam que “os regimes de TH prescritos em 1992 e os atualmente preconizados não são comparáveis quer na sua composição (a maioria dos fármacos utilizados na época não fazem parte das opções terapêuticas atuais), quer nas doses utilizadas (as atuais mais baixas)”.

Também mudaram as indicações e a duração do tratamento, sendo a TH essencialmente recomendada para o tratamento da sintomatologia vasomotora enquanto esta persistir.

“Nesta meta-análise, todas as mulheres começam a ser avaliadas a partir da linha de base dos 50 anos (ou mais) e a exposição hormonal até esse momento não é contabilizada, podendo ser considerada um fator de confusão no que diz respeito aos riscos subsequente de cancro”, advertem.

Sublinham ainda que o aumento do risco de cancro da mama está associado, embora não exclusivamente, ao uso do progestativo (hormona que deve ser utilizada nas mulheres com útero).

O que esta meta análise demonstra é que a obesidade, que já estava associada a um maior risco de recidiva e morte por cancro da mama, é um “fator de risco primário pelo que é imperioso substituir a atitude ‘hormonofóbica’ por uma atitude em prol da mudança de hábitos e de estilo de vida”, defendem.

Assim, salientam os especialistas, “as mulheres portuguesas podem ficar tranquilas porque as recomendações nacionais para o uso da TH após a menopausa, publicadas no Consenso de 2017 da Sociedade Portuguesa de Ginecologia e seguidas pelos seus médicos (Medicina Geral e Familiar, ginecologistas e outros clínicos) se mantêm atuais”.

Sobre a conferência, Fernanda Geraldes disse que tem como principal objetivo debater “a menopausa” numa perspetiva multidisciplinar pelos profissionais que mais contactam com as mulheres nesta faixa etária, principalmente o ginecologista e o médico de família, mas também os farmacêuticos a quem recorrem frequentemente para se queixarem e também para esclarecerem as suas dúvidas sobre os fármacos prescritos relativamente à toma ou a efeitos secundários.

LUSA/SO

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