6 Mar, 2019

Ministra da Saúde culpa Ordem por falta de médicos

Marta Temido defende o alargamento das capacidades formativas para aumentar o número de médicos. Bastonário da Ordem dos Médicos rejeita e diz que até tem recebido queixas relacionada com excesso de internos.

É mais um episódio de tensão entre a ministra da Saúde e os representantes das várias profissões que trabalham no SNS. Desta vez, Marta Temido responsabilizou a Ordem dos Médicos (OM) pelo facto de não se formarem mais médicos especialistas, escreve, esta quarta-feira, o Jornal de Notícias. Na resposta, o bastonário dos Médicos classificou as palavras da governante como “infelizes”.

Em causa está um desacordo quanto ao alargamento da capacidade formativa de algumas especialidades. A tutela considera que as vagas abertas todos os anos nos hospitais e centros de saúde – para a formação de médicos internos – não são suficientes, apontando o dedo aos colégios de especialidade da OM. “Seria possível formar mais médicos se identificássemos mais capacidades formativas, mas nem sempre temos tido o apoio de quem tem essa tarefa nas mãos”, disse a ministra, em entrevista à TVI.

O bastonário da OM refuta a acusação da ministra e garante que tem havido até um aumento da formação. “Os últimos três mapas de vagas foram os maiores de sempre”, garante Miguel Guimarães, alertando que ir mais além vai prejudicar a qualidade da formação. “Ter mais internos nos blocos e nos consultórios significa dar uma formação mais fraca”, diz.

Miguel Guimarães diz mesmo que a OM tem recebido queixas relacionadas com o excesso de internos, sobretudo nas áreas cirúrgicas. A OM defende, a este respeito, a redução do numerus clausus das faculdades de Medicina, tendo em conta o agravamento do problema da falta de vagas para formação especializada, que está a criar um grande contingente de profissionais indiferenciados, que optam muitas vezes pela emigração.

É precisamente sobre este problema (a saída de médicos para o estrangeiro mas também para as unidades de saúde privadas), que, nos últimos dias, se tem gerado um debate no setor da saúde. Perante as ofertas de outros países – que oferecem aos médicos portugueses melhores condições de trabalho e salários muito mais altos -, tornando mais difícil reter profissionais no SNS, a ministra da Saúde diz que as taxas de retenção dos médicos que terminam a especialidade se tem situado sempre acima dos 80% (em 2018, foi de 86%).

Até tendo em conta que a formação de um médico custa ao estado cerca de 115 mil euros, a ministra admite criar, no âmbito da revisão da Lei de Bases da Saúde, uma regra que obrigue os médicos recém-formados a permanecerem no SNS um determinado número de anos.

Tiago Caeiro

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