27 Jan, 2022

Maioria dos internados ‘covid’ dão entrada nos hospitais por outras causas

Números variam entre as unidades hospitalares, mas indicam que uma parte substancial dos doentes foram internados por outra patologia. Números da DGS não espelham a realidade no terreno.

Num período em que o número de internamentos associados à covid-19 tem aumentado, médicos de vários hospitais explicam que a gravidade dos pacientes não é comparável à de vagas anteriores e que a maior parte das pessoas não foram internadas por esta doença, mas por outros patologias ou eventos.

O cenário varia de hospital para hospital, mas as informações dadas pelos responsáveis indicam que o retrato traçado pela DGS, quando se refere aos internamentos covid, não espelha o que se passa no terreno, uma vez que muitos doentes são colocados no internamento covid, mas apenas porque testaram positivo à entrada da unidade hospitalar, o que levanta desafios do ponto de vista da organização hospitalar.

No Hospital São João, do Porto, o número de internados em enfermarias covid-19 aumentou de 40 para 114 num período de três semanas. No entanto, “a esmagadora maioria está internada por outras doenças que não a covid”, explica o diretor da unidade autónoma de gestão de Urgência e Medicina Intensiva, Nélson Pereira, em declaração ao Público.

“Os números variam de dia para dia, mas só 25% a 30% é que estão internados por covid. Todos os outros foram internados devido a outras doenças”, sustenta Nélson Pereira. No mesmo sentido, o diretor do Serviço de Medicina Intensiva, José Artur Paiva, confirma que mais de 40% dos internados no serviço de cuidados intensivos deste hospital estão nesta situação por outros motivos: “são politraumatizados, tiveram enfartes de miocárdio e AVC graves”.

No Hospital de Santa Maria, em Lisboa, a situação não é diferente. Apesar do aumento de “internados covid”, cerca de metade foi hospitalizada por descompensações de outras patologias, acidentes ou por terem cirurgias programadas, tendo testado positivo na testagem prévia ao internamento.

O cenário repete-se no Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, embora a uma escala menor (40% não estão hospitalizados por causa da covid-19 mas estão infetados com o SARS-CoV-2) e no Hospital de Santo António, no Porto, em que 54% dos doentes não foram internados por causa da doença (de um total de 84 doentes positivos para o SARS-CoV-2, só 39 pessoas foram internadas por conta da covid-19).

“Os hospitais estão sob pressão, mas é uma pressão diferente do passado, porque a maioria dos doentes tem agora outras doenças não-covid. Uma parte são idosos com insuficiência cardíaca, insuficiência renal crónica, diabetes descompensada, doença pulmonar obstrutiva crónica. São os idosos de todos os Invernos com doenças crónicas descompensadas. Alguns morrem das suas doenças, não de covid, mas vão contar para a estatística como ‘covids’”, descreve o diretor do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar e Universitário do Porto, João Araújo Correia.

SO

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