Lúpus, emoções e stress
Artigo de opinião de Isabel Marques, de 53 anos, portadora de lúpus, sobre a gestão das emoções ao mesmo tempo que se vive com esta doença.

Ao longo destes 19 anos de diagnóstico com lúpus neurológico tenho passado por variações no diz que respeito às emoções. Tornei-me uma pessoa com muito stresse, de difícil controlo, pois vivo sempre numa agitação constante devido ao facto de o meu lúpus ser neurológico.
Em algumas pessoas o lúpus afeta o sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal), o que causa desde alterações emocionais e do estado de ânimo, até problemas de memória ou sucessivos episódios de vasculites cerebrais, mas de salientar que cada caso é um caso.
O lúpus eritematoso sistémico (LES) é uma doença autoimune crónica que apresenta períodos de exacerbação (atividade, recaídas ou surtos) e de remissão (lúpus adormecido ou inativo). As emoções são reações que todos experimentamos quando nos relacionamos com os nossos semelhantes e com o meio ambiente em geral.
As emoções positivas, como a alegria, a satisfação, fazem-nos sentir bem. As emoções negativas, como o medo ou a raiva, são respostas fisiológicas que podem ajudar a resolver uma situação de stresse agudo (por exemplo, fugir do perigo ou lutar para nos defender); e aquelas como a tristeza nos ajudam a aceitar uma perda (por exemplo, a perda de um ente querido, a perda de saúde).
O stresse é algo que tenho combatido ao longo destes anos e que é difícil para mim controlar. Este tem sido muitas vezes o meu fio condutor para uma crise, pois ativa a doença.
Todos nós já enfrentámos em algum momento da nossa vida uma situação que origina um episódio de stresse, que pode ser provocado por uma situação de grande tristeza. O problema aparece quando não somos capazes de controlá-lo e ele se prolonga no tempo, começando a influenciar a nossa vida e a nossa saúde. Por isso, saber reconhecer as emoções negativas e aprender a controlá-las através de um estilo de vida saudável são questões fundamentais para conseguir o bem-estar emocional e para ter um melhor controlo do lúpus.
Este tem sido o meu maior desafio diário e foi por isso que me isolei do mundo. O lúpus pode entrar em atividade devido a uma situação de stresse emocional ou físico agudo (como a morte de um ente querido, perda do trabalho, mudança, intervenção cirúrgica). Além disso, quando respondemos aos estímulos da vida diária com emoções negativas persistentes que nos levam a ter depressão ou ansiedade, pode ser mais difícil controlar a doença.
A comunicação permanente entre o meu cérebro e o sistema imune leva a que, por um lado, as emoções negativas e o stresse possam muitas vezes ativar o meu lúpus e também provocar mudanças nos estados de ânimo e emoções.
Muitas vezes sinto tristeza. A minha privação do sono é grande, e por isso tudo me destabiliza. Não sei o que é ter um sono reparador o que, por sua vez, me potencia falta de apetite e irritabilidade, pois muitas vezes a medicação não faz efeito.
Conversar com os médicos é fundamental. Após muito tempo a resistir e a pensar que poderia resolver tudo sozinha procurei auxilio junto do meu Psiquiatra e foi o melhor que fiz. É fundamental termos do outro lado alguém que nos oiça para conseguir recuperar o bem-estar emocional.
A ansiedade é algo que me preocupa muitas vezes porque tenho muito pouca paciência e preocupo-me demasiado com as coisas do meu dia a dia, mesmo quando há pouco ou nenhum motivo para tal. Muitas vezes é potencializada porque quero ter controlo das coisas como tinha antes de receber o meu diagnóstico. Por isso, tive de aprender a disciplinar-me dentro do meu ritmo. Aprendi a gerir os meus comportamentos, pois sei que, caso contrário, posso ter uma crise, mas não deixa de ser uma aprendizagem permanente.
Hoje sei que devido ao facto de o meu lúpus se situar no sistema nervoso central entra muito facilmente em atividade por situações de stresse a que esteja exposta, o que desencadeia episódios de ansiedade. Já consigo perceber muito bem os sinais que o meu corpo me dá e aprendi a ouvi-lo.
A atividade física para mim é super dolorosa devido a toda a minha situação osteoarticular, por isso decidi fazer atividades não tão agressivas, como o ioga, para aprender a autocontrolar-me, e andar de bicicleta que me remete aos meus tempos de criança.
Cada um de nós tem de conseguir encontrar estratégias que nos ajudem a melhorar. Permita-se a si mesmo ser feliz e comemorar cada conquista como uma grande vitória. Eu posso, eu quero, eu consigo.
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