Médico de Família
J’AGORA – Um Sonho no Verão de 2021
O Verão é provavelmente a estação preferida da maioria das pessoas e seguramente dos mais jovens.
Pensamos nos dias que são maiores e nas temperaturas convidativas a sair de casa, procurando o campo ou a aldeia, as praias e as esplanadas, as montanhas sempre diferentes, a descoberta de cidades antes imaginadas ou até os piqueniques com amigos, as tardes quentes sem fazer nada e de nada querer saber… livres de horários, de imposições ou etiquetas.
Parece que todas as coisas sabem melhor no Verão.
Sobretudo para pensar sobre o que é melhor para nós, talvez rever ou alterar a lista de prioridades, antecipar bons momentos ou grandes decisões, adiar projectos ou desenvolvê-los como se não houvesse outro amanhã.
E sonhar também é mais arrebatador do que no Inverno.
Sim porque no Inverno fica escuro em nosso redor bem mais rapidamente, estamos mais ocupados pelos horários profissionais e familiares, cansados de ouvir as más notícias que nos invadem por todas as formas de comunicação, frios e menos disponíveis e atentos para ouvir os outros, as suas queixas ou reclamações, sem paciência para as mentiras e as ilusões que nos impingem.
Na comédia de William Shakespeare, “Sonho de uma noite de Verão”, os personagens esforçam-se em múltiplas tentativas, sempre goradas, de controlar o destino.
Recorde-se que nesse texto imortais personagens masculinos, como Teseu, Egeus ou Oberon são inseguros e marcados por uma necessidade de obediência feminina. Por outro lado, as personagens femininas também revelam grande insegurança, mas debatem-se pela desobediência aos homens. São estas diferenças que caracterizam o argumento do texto cénico, ordem versus caos.
Os sonhos de Verão, os meus sonhos também desde miúdo, apostaram nesse mito.
Nesse mito e numa ideia central desde os cinco anos de idade, a de ser médico.
Posso assumir não controlar por inteiro o meu destino, mas escolhi o meu destino.
Como o que se passa na peça de Shakespeare, continuo num dilema, mas aprendi que desistir não cabe no meu léxico e por isso, este Verão cá estarei para voltar a sonhar, sonhar novamente e como poderei controlar o destino…
Certamente terei de manter alguns cuidados adicionais.
De noite para não cair da cama, não me levantar tonto e sonolento, sedento e desesperado por não ter concluído exactamente o melhor de todos os sonhos!
E de dia, enrolado e compenetrado com os cuidados com o sol, os filtros solares, as protecções contra os ultravioletas, as idas ao mar e a temperatura miserável da água do mar, ou o calor abrasador no campo, as queimaduras e ruborizações excessivas do nariz, das orelhas e dos pés.
Também é verdade que deveria evitar a cafeína, mas confesso tal impossibilidade…
Uma crónica de Verão pode ser também um convite, quiçá um desafio para esquecer ou derrubar as fronteiras do pensamento.
Não importa o ritmo a que cumprimos o nosso percurso de vida ou de profissão ou de ser social.
Apenas se sublinha o sentido desse caminho, focado nos objectivos de cada um, no bem de todos.
Nada nos é garantido. O sabermos questionar, as pessoas como a nossa vida, leva a um outro patamar de compreensão e de estar na vida. É o ponto de partida para o que designaria de superação, os pequenos passos que vencemos no dia-a-dia.
E o Verão é a fase do ano que que recarregamos as baterias, definimos alvos, delineamos estratégias, esquecemos o que incomoda, arrelia ou perturba, partimos para novos desafios.
E sonhamos.
Um belo sonho de Verão, um Verão de 2021.
O mundo trava o aquecimento global, acordo com frio.
A educação e a saúde são agora as primeiras prioridades dos Estados, tusso e foi isso que me despertou antes.
A economia cresce e aposta na ciência como motor do desenvolvimento dos povos, sinto algo como uma tontura.
O mundo conhece a maior redução de sempre nas desigualdades entre pobres e ricos, tenho que acender a luz de cabeceira.
Não vejo a porcaria da máscara, a pandemia foi-se antes de eu acordar!