Infeção por HPV
Artigo de opinião de Mariana Vide Tavares, especialista em Ginecologia-Obstetrícia.
O HPV (Vírus do Papiloma Humano) é um vírus do qual se conhecem mais de 170 tipos e cerca de 40 são de alto risco, ou seja, têm potencial oncogénico. Este é um vírus de transmissão sexual com contágio fácil. A infeção por HPV é a doença sexualmente transmissível mais frequente em todo o mundo e, a maior parte das pessoas, será infetada ao longo da vida.
A infeção pelo HPV é assintomática e a grande maioria destas infeções resolve-se espontaneamente. Somente numa pequena percentagem de casos a infeção por HPV de alto risco não é eliminada, torna-se persistente e podem surgir lesões pré-malignas ou malignas do trato genital (colo do útero, mas também vagina e vulva).
O HPV é o segundo carcinogéneo mais frequente, logo a seguir ao tabaco. É o agente responsável por 99% dos carcinomas do colo do útero. É condição necessária, mas não exclusiva, para o seu desenvolvimento. A prevenção da infeção pelo HPV faz-se essencialmente através do uso do preservativo e pela vacinação contra o HPV. A deteção da infeção e das lesões causadas pelo HPV pode fazer-se através do rastreio do cancro do colo do útero (CCU) e do tratamento das lesões pré-malignas.
A vacina contra o HPV foi a primeira a prevenir um tipo de cancro. Há evidência para a sua recomendação universal, neutra de género, para a prevenção do cancro do colo do útero (e outros). A recomendação foi alargada para outras situações, como após tratamento de lesões de alto grau. Em Portugal, a vacinação contra o HPV tem uma taxa de adesão das maiores da Europa e supera os 85%.
O teste de HPV primário, como base do rastreio do CCU, é relativamente recente e ainda desconhecido da maioria da população-alvo do rastreio, e veio acrescentar sensibilidade e valor preditivo negativo quando comparado com a citologia, assim como objetividade e maior reprodutibilidade. A desvantagem reside num maior número de deteção de infeções sem lesão associada, sendo assim necessário fazer outros testes, como citologia reflexa, por forma a limitar o número de referenciações para consulta de patologia cervical.
A literacia da população quanto à infeção por HPV é ainda consideravelmente baixa. Existem muitos mitos e estigmas associados. É importante esclarecer e educar, de modo a não atribuir culpa aquando diagnóstico desta infeção e das eventuais lesões associadas, assim como desmistificar o tratamento, quando necessário.
O cancro do colo do útero é um problema de saúde pública à escala mundial. A OMS tem um programa para erradicar o cancro do colo (incidência menor 4 casos/100.000 mulheres) até 2030, baseado na premissa que “nenhuma mulher deve morrer de uma doença prevenível”. Para isso estabeleceu o programa 90-70-90: 90% mulheres vacinadas até aos 15 anos; 70% mulheres rastreadas aos 35 e 45 anos; e 90% das mulheres com diagnóstico de doença com acesso a tratamento.
Que possamos todos, em conjunto, fazer com que, no nosso país, rapidamente atinjamos esta meta e contribuir para uma melhor saúde da nossa população.
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