13 Nov, 2018

Hospital Garcia de Orta perdeu 40% dos anestesistas para o setor privado

O Hospital Garcia de Orta, em Almada, no distrito de Setúbal, perdeu cerca de 40% dos anestesistas nos últimos anos para o setor privado, o que tem afetado as cirurgias, revelou hoje o presidente do concelho de administração.

“Existe uma necessidade extrema de anestesia. De facto, o hospital perdeu nos últimos anos cerca de 40% dos recursos de anestesia. Perdeu estes recursos naturalmente porque não tem capacidade de competir com o setor privado para onde eles têm transitado de forma contínua e o ritmo de formação não tem sido suficiente para fazer face a estas substituições”, avançou à agência Lusa Daniel Ferro.

Segundo o responsável, a falta de recursos humanos afeta a capacidade de realizar cirurgias e o segredo tem sido a “colaboração das pessoas, que se desdobram para fazer muitas vezes o trabalho de três ou quatro”.

O principal problema, de acordo com o responsável, é a falta de regulação para impedir que um hospital público-privado faça recrutamento de anestesistas dos hospitais públicos.

A unidade hospitalar avançou, neste sentido, que perdeu 13 anestesistas nos últimos anos, o “mesmo número recrutado por dois hospitais público-privados da margem norte”.

“É uma situação que conseguimos aguentar por um curto período de tempo, mas não num período dilatado e o apelo que nós temos feito é no sentido de esta situação ter resolução imediata”, frisou o presidente do conselho de administração.

Daniel Ferro deixou, no entanto, uma palavra de tranquilidade para a população, afirmando que “nenhuma cirurgia urgente tem sido adiada ou não feita”.

“Nenhuma situação de cirurgia programada prioritária tem deixado de ser feita, a única situação que tem sido percolada são situações de cirurgias menos urgentes e mesmo para essas estamos a procurar operar fora do hospital, com os nossos cirurgiões. Mas não é uma situação desejável para os doentes, tem incómodo para os doentes”, referiu.

O presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço visitou hoje esta unidade hospitalar da margem sul para “conhecer ‘in loco’ as queixas que têm surgido sobre o funcionamento da urgência e dos problemas de anestesia”.

Em declarações à Lusa, o responsável referiu que a falta de anestesistas nas equipas de urgência faz com que haja “repercussão nas cirurgias eletivas e em toda a produção cirúrgica de todas as especialidades que dependem da anestesia”.

“Isto significa que muitos dos médicos que são deslocados para fazer o seu trabalho de rotina têm que o fazer à base da urgência. A medicina baseada na urgência não é boa para a saúde dos portugueses”, afirmou.

Alexandre Valentim Lourenço revelou ainda que esta situação se tem agravado nos últimos quatro anos e que “é preciso quebrar com este ciclo negativo que faz com que haja menos profissionais nos hospitais públicos”.

Os próximos passos da Ordem dos Médicos serão, assim, continuar a reafirmar “a necessidade de se cumprir os níveis mínimos de segurança em cada especialidade” e “fazer pressão” junto das entidades competentes para que o problema seja resolvido.

Também o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Roque da Cunha, denunciou a “extrema carência de serviços humanos” no hospital de Almada.

“Não é admissível que um hospital que cobre umas centenas de milhares de cidadãos portugueses tenha períodos de espera de vários meses para as mais diversas consultas”, frisou.

Neste sentido, afirmou que “não é por acaso” que se demitiram dois dos diretores de serviço, “o da anestesia e o da pediatria”.

“Este é o nosso alerta, para que o Ministério da Saúde cumpra aquilo que foi eleito para fazer, resolver o problema da saúde dos portugueses”, referiu.

LUSA

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