22 Mai, 2019

Faltam recursos humanos e financeiros para ensaios clínicos em oncologia pediátrica

São poucos, ou melhor, “são muito poucos”, lamenta Cristina Potier, diretora-geral da Fundação Rui Osório de Castro (FROC), que não tem dúvidas de que são precisos mais ensaios clínicos nesta área.

São poucos, ou melhor, “são muito poucos”. Cristina Potier, diretora-geral da Fundação Rui Osório de Castro (FROC), não tem dúvidas que são precisos mais ensaios clínicos em oncologia pediátrica. A propósito do Dia Internacional dos Ensaios Clínicos, que se assinalou a 20 de maio, confirma que “entre as questões que impedem a inclusão de crianças com doença oncológica em ensaios clínicos estão a escassez de recursos humanos para coordenar, monitorizar e reportar aos grupos internacionais que coordenam estes estudos e, também, a falta de recursos financeiros”.

De acordo com a representante da FROC, “os centros de referência de oncologia pediátrica encontram-se muito orientados para um modelo exclusivamente assistencial, o que faz com que a participação de Portugal nestes grupos de trabalho internacionais exista apenas sustentado na boa vontade dos médicos”. Apela, por isso, à existência de uma estrutura capaz de coordenar a participação nestes ensaios clínicos, considerada “uma mais-valia para se conseguir integrar mais crianças portuguesas ao abrigo de protocolos de ensaios clínicos”.

A diretora-geral da FROC salienta também a necessidade de consciencializar a população no geral que “as crianças com doença oncológica são tratadas com medicamentos que, na grande maioria, não foram testados para elas, mas sim para adultos”. As características e as reações de um cancro numa criança podem ser muito diferentes do cancro num adulto. “É por isso fundamental que exista investigação clínica e ensaios clínicos específicos para a oncologia pediátrica.”

Cristina Potier, considera ainda que Portugal deve “contribuir para a evolução do conhecimento da doença e da melhoria contínua nos cuidados prestados, com a vantagem de assim as nossas crianças terem mais cedo acesso a terapias inovadoras” e explica que “os ensaios clínicos realizados nas crianças de que falamos são de fase III ou IV. O que é que isto quer dizer… que o risco não é grande, os medicamentos utilizados já têm autorização de introdução no mercado. Apenas se quer comprovar se um medicamento ou protocolo é melhor do que já é seguido no tratamento de um certo tipo de doença oncológica nas criança”.

No que diz respeito ao investimento da indústria farmacêutica, a aposta tem sido no adulto. “A investigação pediátrica é normalmente realizada por iniciativa dos investigadores, através de estudos chamados académicos. Nos ensaios clínicos pediátricos podem estar a testar-se protocolos de tratamento e caso não seja ‘melhor’ do que o normalmente seguido, volta-se ao protocolo normalmente utilizado para aquela patologia e estadiamento da doença”.

Aqui, “a vantagem é que a observação não é feita apenas numa criança. Existe um grupo de crianças que participa, pelo que existe uma grande monitorização e controlo ao tratamento seguido. Qualquer sinal menos positivo é logo transmitido a todos os participantes. Tendo em conta o número reduzido de casos de cada tipo de cancro pediátrico, estes ensaios são normalmente organizados por grupos de trabalho internacionais, normalmente europeus, para que a amostra seja significativa”.

Tendo em conta a mais recente posição da Sociedade Europeia de Oncologia Pediátrica, que pretende alterar a idade mínima de acesso a ensaios clínicos para 12 anos, a diretora-geral da FROC considera que a proposta “tem prós e contras. Permite o acesso precoce a tratamentos inovadores e muito se tem evoluído no tratamento e na sobrevivência de alguns tipos de cancro nos adultos isto graças a terapias inovadoras. Terapias essas a que as crianças com a atual regra dos 18 anos ainda não têm acesso. O contra é o risco inerente à participação num ensaio clínico, neste caso com medicamentos que podem ainda não ter autorização para serem introduzidos no mercado, isto é nunca “testados”. Pessoalmente, acredito, que cada caso é um caso e que a escolha deverá ser dada à família e ao médico e apenas seguida não havendo outra hipótese terapêutica satisfatória. E acho que esse vai ser o caminho ”.

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