Entrevista. Síndrome do Intestino Irritável afeta 1 milhão de portugueses

A Síndrome do Intestino Irritável é "muito frequente", segundo o médico gastroenterologista, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) e diretor do serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do CHLN

Qual é a prevalência desta doença em Portugal e quais os grupos mais atingidos?

Estima-se que cerca de 10% da população sofra da dita síndrome do intestino irritável. Ou seja, 1 milhão de portugueses tem sintomas que se podem enquadrar nesta doença. Numa sala onde estejam 100 pessoas, 10 delas têm esta síndrome. É muito frequente. É mais frequente no sexo feminino, em pessoas com menos de 50 anos e naqueles com personalidades ansiosas e/ou deprimidas.

Quais os principais sintomas desta doença?

Síndrome, em Medicina, significa um conjunto de sintomas: os mais característicos são a dor abdominal (cólica), prisão de ventre (obstipação), diarreia (mais do que 3 idas ao WC por dia). Poderá existir também gases e distensão do abdómen. Nalguns casos as crises de diarreia (mais de manhã, raramente de noite) alternam com períodos de obstipação.

Qual é o processo de diagnóstico da SII?

O diagnóstico nem sempre é fácil: baseia-se nos sintomas que já descrevemos, muitas vezes numa pessoa com personalidade algo ansiosa. Implica consulta com um médico, incluindo o que chamamos de história clínica (conversar e observar). É necessário, consoante a situação, pedir exames, análises, ecografia, entre outros como possa ser endoscopia, colonoscopia, etc. Mas depende da avaliação da situação. Nem sempre é fácil, aliás em muitos casos o diagnóstico é de exclusão. Ou seja, a máxima preocupação do médico é excluir outras doenças mais graves, designadamente cancros. Não gostamos muito de catalogar alguém com a síndrome do intestino irritável. Temos que ser muito cautelosos. Se tiver mais de 50 anos o rastreio do cancro do cólon tem que ser feito de forma obrigatória, preferencialmente por colonoscopia num intestino muito bem limpo.

Sendo uma doença crónica sem cura, quais são os tratamentos que existem para controlar a SII?

Existe muito para fazer: conversar com o médico, que em muitos casos faz as vezes de psicólogo, medicamentos dirigidos aos sintomas (cólicas, obstipação), ansiolíticos, antidepressivos, medicamentos que se destinam a equilibrar a flora intestinal. A flora intestinal tem, hoje em dia, um nome mais moderno: microbioma ou microbiota. Microbioma significa um conjunto de bactérias, que vivem em estreita comunhão connosco dentro do intestino delgado e grosso. Não há Vida Humana sem estas bactérias muito importantes em várias funções do corpo humano. Outra atitude muito importante é procurar intervir na alimentação e identificar quais os alimentos que se associam ao desencadear das crises. Na nossa opinião devem ser evitados os laxantes muito eficazes, mas muito irritantes da parede intestinal. O aumento de fibras na alimentação pode ajudar a regularizar o funcionamento do intestino. Até lhe chamamos o “trânsito intestinal”.

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Que consequências pode ter a falta de diagnóstico, e por consequência de tratamento, na vida destas pessoas?

A falta de diagnóstico pode gerar ansiedade e um ciclo vicioso de preocupação com o desconhecido e a incerteza. Por outro lado, tem que se colocar sempre a hipótese de ser uma situação mais grave. O mais importante é que o médico diga que está tudo bem e propor as tais medidas que falámos, que pode incluir alguns medicamentos. Não há cura, mas pode haver intervenção muito eficaz. Outra das consequências é a interferência na qualidade de vida, o incómodo das dores, da diarreia, da presença incómoda dos gases, que leva muitas vezes ao absentismo laboral.

Esta doença aumenta a probabilidade do aparecimento do cancro do intestino?

Não, de modo algum.

De forma a sensibilizar e informar a sociedade, quais as recomendações que quer deixar a estes doentes?

Não há curas milagrosas, não se deixem influenciar por promessas mágicas. O mais importante de tudo é que um médico, eventualmente um gastrenterologista, faça o diagnóstico, após exclusão de outras doenças mais graves. Há 1 milhão de portugueses que lhe fazem companhia…

AR/SO

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