28 Fev, 2019

Diretores clínicos do Centro Hospitalar de Leiria solidários com colegas da Urgência

Diretores de serviço da área clínica apontam o dedo à tutela, aos sindicatos e até à comunicação social.

Após reunião na terça-feira, os diretores de serviço manifestam, em comunicado, “aos colegas que no dia-a-dia trabalham no Serviço de Urgência Geral total solidariedade, deixando claro que o problema” deste serviço é extensível a “toda a instituição” e afeta todos os médicos.

No texto, assinado por 20 diretores clínicos, os médicos justificam que o CHL tem “sido objeto de várias notícias veiculadas pela comunicação social, em consequência da complexa situação vivida no Serviço de Urgência, sobrecarregado pelo elevado número de doentes que a ele têm acorrido ao longo dos últimos meses”.

“Esta situação levou recentemente a uma tomada de posição das chefias das equipas que naquele serviço trabalham”, acrescentam. No comunicado, é reconhecida a “gravidade dos problemas, bem como a necessidade da implementação de um conjunto de medidas urgentes para as quais manifestam toda a disponibilidade para colaborar”.

Médicos criticam tutela, sindicatos e media

Os responsáveis médicos exigem ainda aos “organismos da tutela uma resposta adequada, conscientes que estão da natureza multifatorial desta situação, a que não são alheios os constrangimentos de natureza financeira, a falta de recursos humanos, a total perda de autonomia das instituições e a incapacidade de resolução do problema do acesso aos serviços de saúde”.

O documento, que será enviado ao presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Leiria, à ministra da Saúde, ao bastonário da Ordem dos Médicos e aos sindicatos médicos, apela às “organizações profissionais que não contribuam para este clima e que, pelo contrário, possam participar na procura das melhores soluções”.

Segundo o comunicado, os médicos dizem ainda estar em “total desacordo como o problema do Serviço de Urgência tem sido tratado por alguns órgãos de comunicação social” e solicitam que, “no cumprimento da sua missão, não ponham em causa o bom nome e o prestígio da instituição, bem como a dignidade dos profissionais que nela trabalham”.

Esta semana, o Conselho de Administração do CHL confirmou à Lusa que sentiu necessidade de reprogramar algumas cirurgias não urgentes, de modo a “canalizar recursos” para os “doentes cirúrgicos urgentes”. “Face aos constrangimentos que vimos sentindo, confirmamos que houve necessidade de fazer algumas alterações e restrições à programação cirúrgica dos doentes não urgentes, e apenas estes, de forma a canalizar recursos e disponibilidades para os doentes cirúrgicos urgentes, nomeadamente ao nível da equipa de Anestesiologia”, referiu o Conselho de Administração.

Na semana passada, a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos revelou que todos os chefes de equipa da Urgência de Medicina Interna do Hospital de Santo André se demitiram em janeiro, alegando a inexistência de condições essenciais ao desempenho das funções.

O presidente daquela secção regional, Carlos Cortes, explicou que os médicos “não têm tempo para a chefia do serviço, nem recursos para cumprir a escala de urgência”.

Em declarações à Lusa, Carlos Cortes acrescentou que o Serviço de Urgência do hospital de Leiria atingiu o “limite” e que “só não encerra por todo o esforço dos médicos que lá trabalham”, mesmo “sem serem reconhecidos pelo Conselho de administração do CHL”.

Desde o início do ano, a Ordem dos Médicos já recebeu 159 declarações de responsabilidade deste hospital, mais “do que de todos os hospitais do Centro juntos, o que mostra uma grande preocupação com o que está a acontecer em Leiria, sobretudo na Urgência de Medicina Interna”, salientou Carlos Cortes.

LUSA

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