15 Out, 2020

Cuidados Continuados. Há dificuldades de acesso mas nunca houve “tantas vagas”

Associação dos Cuidados Continuados diz que recebe relatos de pessoas que não se conseguem sequer inscrever, quando taxa de ocupação nunca esteve tão baixa.

O presidente da Associação Nacional dos Cuidados Continuados (ANCC), José Bourdain, considerou “estranhíssimo” a rede destes cuidados ter uma ocupação tão baixa, numa altura em que há “imensas dificuldades” no acesso.

“Nunca a taxa de ocupação em cuidados continuados foi tão baixa. Isto é estranhíssimo quando há tanta gente em fila de espera”, disse José Bourdain na Comissão de Saúde, onde foi ouvido a pedido do CDS-PP, para prestar esclarecimentos relativamente ao documento “Diagnóstico sobre o Funcionamento da RNCCI e Proposta de Soluções” que a ANCC elaborou.

A associação recebe relatos de pessoas a queixarem-se de que “nem sequer lhes permitem aceder no sentido de se inscreverem” na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI).

“Dizem às pessoas que vão para casa, que arranjem uma vaga privada em lares de idosos e coisas do género e isto é feito pelos hospitais”, disse, denunciando ainda que “há hospitais públicos inclusive a empurrar pessoas para lares ilegais”.

“Isso também acontece infelizmente e, portanto, neste momento as pessoas estão a ter imensas dificuldades de acesso à rede de cuidados continuados, que nunca teve tantas vagas”, reiterou.

José Bourdain adiantou que há uma norma que determina que os doentes que vão para unidades de cuidados continuados têm de ficar em quartos individuais por causa da quarentena.

Mas, questionou, “quando uma unidade de cuidados continuados diz que tem três vagas (…) porque é que não enviam três doentes ao mesmo tempo e resolve-se o problema da quarentena”.

Ouvida hoje também na Comissão de Saúde, uma das coordenadoras da RNCCI, Cristina Caetano, explicou que a orientação da DGS diz que as pessoas que entram na rede, apesar de terem o teste à covid-19 negativo, têm de ficar 14 dias de quarentena.

Isto vai obrigar a pessoa a estar num quarto individual e muitas vezes o que existe é um quarto duplo que está ocupado e, por isso, baixou a taxa de ocupação, “não tem a ver com outras questões”, explicou.

“Até porque a nível da coordenação fazemos um acompanhamento muito próximo sobre a afetação dos casos de doentes colocados e pedimos o reporte diário às equipas da Coordenação Regional de vagas que estão disponíveis e de vagas que são alocadas”, disse Cristina Caetano.

Na audição, José Bourdain alertou ainda para o impacto que o encerramento de uma unidade de cuidados continuados pode ter nos hospitais.

“Caso haja unidades de cuidados continuados a encerrar seja porque vão à falência (…) seja porque têm falta de recursos humanos, basta fechar duas ou três unidades com uma dimensão razoável e é caos nos hospitais”, salientou.

Quando isto acontece o se que faz “é ligar para as ambulâncias e levar os doentes para os hospitais, porque não há outra forma”, disse, explicando que estas pessoas precisam de cuidados de enfermagem permanentes.

“Há unidades de cuidados continuados com enfermeiros abaixo dos 50% no seu quadro de pessoal, enfermeiros a trabalhar 16 horas por dia durante duas semanas seguidas, enfermeiros a trabalhar 24 horas por dia, isso é um problema do país”, relatou.

Outra questão levantada pelo presidente da ANCC é o facto de um funcionário testar positivo à covid-19 e todos terem de ir para casa de quarentena.

“Isto está a lançar um problema nos cuidados continuados, mas também nos lares para pessoas com deficiência, de idosos que não tarda não têm pessoas para trabalhar”, advertiu.

“Há várias instituições, a minha também, em Sintra, que tem imensa gente em casa”, uma situação que pode levar ao encerramento de equipamentos: “Isto é gravíssimo devia ser resolvido”.

SO/LUSA

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