20 Jan, 2025

Colesterol. Mulheres são submedicadas por causa de “perceção menos correta” do seu risco cardiovascular

De acordo com o estudo PORTRAIT-DYS, as mulheres são mais “subtratadas” do que os homens quando se trata de controlar os níveis de colesterol com terapêuticas hipolipemiantes. Daniel Seabra, cardiologista na ULS Matosinhos e no Hospital Lusíadas Porto, alerta que se deve dar mais atenção a este fator de risco, promotor de aterosclerose.

 “As doenças cardiovasculares (CV) apresentam diferenças claras nas manifestações clínicas e nos resultados do tratamento entre homens e mulheres.” A conclusão é do estudo  “Sex differences in LDL-C control in a primary care population: The PORTRAIT-DYS Study”, realizado na ULS Matosinhos. Para Daniel Seabra, esta diferença é uma barreira que tem de ser ultrapassada. “As mulheres são submedicadas; existem diversos fatores que o justificam, um deles prende-se com a perceção menos correta do seu risco cardiovascular, por se considerar que é maior no sexo masculino.”

Além disso, acrescenta, “o colesterol continua a ser o parente pobre do risco cardiovascular, já que, segundo o estudo, mesmo não tendo em conta o género, apenas 20% dos 30 mil participantes tinham níveis LDL controlados”.

Daniel Seabra considera que impera a necessidade de se dar mais atenção a este fator de risco. “A hipertensão e a diabetes são as mais visadas, e são muito importantes, mas temos de dar mais atenção ao colesterol, que é o grande promotor de doença aterosclerótica estabelecida.” Continuando: “Os valores elevados de LDL são proporcionais ao risco de eventos cardiovasculares, como já é sobejamente reconhecido na literatura científica, por isso deveríamos ser mais proativos e combater o subtratamento, nomeadamente no sexo feminino.”

Questionado sobre as razões subjacentes a este problema, existem fatores destacados como baixa adesão terapêutica e maior taxa de abandono, fatores sociais, ambientais e comunitários (relacionados com o género). Admite, também, que uma parte da resposta reside numa perceção (errada) de que o sexo feminino tem menor risco cardiovascular e por não se dar a devida importância ao impacto que o colesterol tem no risco cardiovascular.

Daniel Seabra espera que este estudo possa ser um alerta para que os médicos, dos cuidados de saúde primários e hospitalares, sejam mais proativos e evitem a chamada inércia terapêutica no que diz respeito ao combate aos níveis de colesterol. “Este estudo é robusto e dá-nos uma perspetiva nacional e transversal ao longo do nível de cuidados, já que na ULS Matosinhos todos os dados analíticos são guardados na mesma plataforma, independentemente de os cuidados serem prestados nas unidades de saúde familiar ou no hospital”, sublinha.

O estudo PORTRAIT-DYS foi realizado, em Portugal, e pretendeu fazer uma caracterização do controlo do colesterol LDL nas categorias de maior risco cardiovascular.

MJG

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