Centro Pediátrico do São João tem luz verde para avançar mas contestação não abranda

Pais de crianças com cancro dizem que despacho é pouco claro e exigem que seja recuperado o projeto existente, de modo a acelerar o processo. Associação "Joãozinho" acusa administração do Hospital de “má vontade” e de ter boicotado as obras.

O Governo autorizou na quarta-feira a administração do Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, a lançar o concurso para a conceção e construção das novas instalações do Centro Pediátrico. No entanto, as críticas à forma como o processo tem sido gerido pela tutela e também pela administração do Hospital continuam.

Os pais de crianças com cancro tratadas no São João consideram o despacho “pouco claro”, a Associação Joãozinho acusa a unidade hospitalar de não ter já a ala pediátrica pronta por “má vontade” e o abaixo-assinado lançado pelo movimento cívico informal “Pelo Joãozinho” a pedir a “imediata” construção da nova ala pediátrica vai continuar a recolher assinaturas.

Logo depois de ter sido conhecido o despacho, assinado pelos ministros das Finanças e da Saúde, o porta-voz dos pais de crianças com doença oncológica tratadas no São João, classificou-o como “pouco claro”. “Este despacho é um nim, nem não, nem sim”, afirmou Jorge Pires.  Jorge Pires considerou que a “melhor solução” seria aproveitar o projeto já existente para a ala pediátrica, agilizando processos, porque se for necessário voltar a fazer um novo projeto de arquitetura e especialidades isso significará voltar à “estaca zero”.

 

Aproveitar o antigo existente

 

“Se esse concurso for para voltar a fazer tudo de novo é um processo moroso e um voltar atrás, mas se for para aproveitar o projeto antigo fantástico, o que nos queremos é ganhar tempo para que as crianças não sofram”, vincou. Uma posição que foi ao encontro do que já tinha sido defendido pelo presidente da administração do hospital, António Oliveira e Silva, que revelou estar a “auscultar os serviços jurídicos” sobre a possibilidade de poder aproveitar o projeto existente.

Apesar de considerar o projeto que tem já dez anos “obsoleto”, o presidente da administração disse que lhe “facilitava a vida” poder trabalhar “em cima do projeto” que já existe, porque há estruturas e infraestruturas que vão ser comuns.

Jorge Pires frisou que é “urgente andar para a frente” com a ala pediátrica, mas não com “fait-divers”, nem com medidas de secretária, acrescentando que agora com este anúncio do Governo “calam-se todos durante uns tempos” enquanto continua “tudo na mesma”. As condições das instalações e dos transportes continuam “miseráveis”, contou, questionando-se sobre “quantas crianças precisam de morrer para que isto melhore”.

 

“Má vontade” e “boicote”

 

Já ao final da tarde desta quinta-feira, a Associação “Joãozinho” acusou o Hospital de São João, no Porto, de não ter a ala pediátrica concluída por “não querer”, por “má vontade”, por “boicote” e por “incumprimentos contratuais”. O presidente da associação, Pedro Arroja, disse que se as obras não tivessem sido interrompidas em março de 2016, no final deste ano estariam concluídas.

Pedro Arroja recordou que já existe um projeto que tem seis anos e custou 700 mil euros ao hospital, acrescentando que se agora decidirem fazer um novo este vai ser “deitado à rua”. “O hospital cedeu-nos o projeto para executarmos os trabalhos, não estando nada obsoleto, é um projeto moderníssimo”, afirmou.

Pedro Arroja lembrou que a unidade hospitalar tem um contrato com a associação para executar a obra em cooperação, por via mecenática, cujos contratos assumidos pela administração “não estão a ser cumpridos”. “A obra está começada, os trabalhos de demolição das antigas instalações existentes no espaço estão feitos, mas, entretanto, o hospital desde há dois anos e meio que não nos desocupou o serviço de sangue, que tem de ser demolido, para prosseguirmos com a empreitada”, contou.

Arroja acusa a administração de “não querer a obra” feita pelo o Joãozinho e diz “estar farto” de tentar reunir-se com a administração para que cumpram o estipulado. O presidente da associação refere que, ao contrário do que se tem vindo a fazer querer nas notícias, o despacho o que diz é que o hospital está autorizado a lançar concurso para a concessão e projeto da ala pediátrica e não para a sua empreitada.

“Isto é remeter para as calendas gregas do início da obra”, entendeu, reforçando que é mais uma forma de “atirar areia para os olhos das pessoas”. Com a elaboração de novo projeto, as obras de construção do Centro Pediátrico não irão arrancar nos próximos quatro anos, garantiu.

LUSA/ Saúde Online

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