2 Nov, 2022

Cancro do pulmão. “Rastreio de base populacional pode diminuir a mortalidade em cerca de 10%”

A implementação do rastreio a pessoas entre os 45 e os 74 anos, fumadores ou ex-fumadores há menos de 15 anos, poderia ainda "diminuir os custos bem como o impacto social e familiar que o cancro do pulmão tem", sublinha, em entrevista, António Araújo, diretor do Serviço de Oncologia do Centro Hospitalar do Porto.

Qual a dimensão atual do cancro do pulmão em Portugal, no que diz respeito nomeadamente à mortalidade, incidência e custos económicos associados a esta doença?

Segundo o Registo Oncológico Nacional, que foi publicado em 2021 e que refere dados de 2018, foram registados 50151 novos casos de cancro em Portugal. Destes, 4424 casos foram de cancro do pulmão, sendo este o segundo a nível do homem (depois do cancro da próstata) e o quarto a nível do sexo feminino (após os cancros da mama, da tiroide e do colorrectal). Mas, em termos de mortalidade, o cancro do pulmão é aquele que maior mortalidade causa, com 4168 óbitos.

Em termos de custos económicos provocados por esta doença, não existem cálculos nacionais fidedignos, seja sobre os custos diretos ou indiretos. Mas como a taxa de incidência desta doença predomina entre os 55 e os 79 anos, afeta assim indivíduos que estão perto da idade da reforma, antecipando-a, e cidadãos mais idosos que vão precisar da ajuda de terceiros, levando a que familiares deixem de trabalhar para prestar os cuidados necessários. Por outro lado, como é uma doença que em cerca de dois terços dos casos é diagnosticada em estadios avançados, os tratamento são cada vez mais dispendiosos e prolongados. Assim, quer os custos indiretos quer os diretos são bastante elevados e deveriam ser objetos de estudos mais aprofundados.

Sabendo-se da importância da prevenção e do rastreio para detetar e tratar mais precocemente o cancro do pulmão, considera que seria viável avançar com rastreio de base populacional ao cancro do pulmão em Portugal? Na sua opinião, como deveria ser implementado? Deveriam abranger todos os fumadores e ex-fumadores acima de uma determinada faixa etária?

É evidente que o principal método para diminuir a incidência de cancro do pulmão seria diminuir o consumo do tabaco. Mas, porque este não irá terminar, é fundamental tentar salvar o maior número de vidas possível e poupar o erário público e isso só será possível com a implementação de um rastreio de base populacional. Em Portugal e porque ainda não temos nenhuma experiência realizada, deveríamos começar por elaborar e executar um plano a nível regional, que permitisse tirar conclusões para posteriormente se alargar para o nível nacional. Este deveria abranger os cidadãos de acordo com o que está internacionalmente mais aceite: entre os 45-50 e os 74 anos, fumadores ou ex-fumadores há menos de 15 anos, podendo abranger ainda indivíduos com doença pulmonar crónica que esteja relacionada com um risco aumentado de provocar cancro do pulmão. O método a utilizar será a realização de uma TAC de baixa dose anual.

Um rastreio deste tipo já está implementando em algum país ocidental? Que benefícios podem ser gerados pelo rastreio de base populacional, nomeadamente no que respeita à redução da taxa de mortalidade?

Existem vários países do norte da Europa que já têm implementado rastreios de base populacional e há outros que estão em vias de o implementar. Com este tipo de ação poder-se-ia diminuir em cerca de 10% a taxa de mortalidade por esta doença e, logicamente, diminuir os custos, diretos e indiretos, bem como o impacto social e familiar, que o cancro do pulmão tem.

SO

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