25 Out, 2024

Cancro do endométrio. “A hemorragia uterina anómala está associada a mais de 75% dos casos”

O cancro do endométrio é o cancro ginecológico mais frequente em Portugal, que afeta maioritariamente as mulheres com mais de 50 anos e no período pós-menopausa. Pedro Meireles, médico oncologista do IPO Lisboa, alerta para os sintomas.

Cancro do endométrio. “A hemorragia uterina anómala está associada a mais de 75% dos casos”

Qual a prevalência do cancro do endométrio na menopausa e quem é mais afetado?

O cancro do endométrio é o cancro ginecológico mais prevalente nos países desenvolvidos, especialmente após a menopausa. A sua incidência aumentou mais de 40% nas duas últimas décadas. A prevalência deste tipo de cancro tende a aumentar com a idade, sendo mais frequentemente diagnosticado em mulheres com mais de 50 anos, tipicamente já na pós-menopausa.

Em termos de fatores de risco, mulheres com excesso de peso, hipertensão arterial, diabetes mellitus e história de uso de terapia hormonal com estrogénios estão mais propensas a desenvolver este tipo de cancro. Para além disso, mulheres com história de menarca precoce (início precoce da menstruação), menopausa tardia, nuliparidade (nunca terem tido filhos), síndrome dos ovários poliquísticos e síndromes genéticos, como a síndrome de Lynch, têm um risco aumentado de desenvolver cancro do endométrio.

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Quais os sintomas?

Um dos mais comuns é a hemorragia uterina anómala, cuja ocorrência está associada a mais de 75% dos casos. Trata-se de uma perda de sangue vaginal, semelhante à menstruação, mas num período em que as mulheres atingiram já a menopausa. Nas mulheres na pré-menopausa, o sangramento menstrual irregular ou excessivo também pode ser um sintoma. Por outro lado, sintomas como o corrimento vaginal anormal, que não está associado a infeção ou outras causas comuns, dor pélvica, aumento do volume abdominal ou dispareunia também podem ocorrer, embora não sejam comuns nos estádios iniciais da doença.

Tendo em conta que a mulher se encontra na menopausa, de que forma esta fase da vida pode contribuir e ou complicar o diagnóstico e o tratamento deste tipo de cancro?

A menopausa desempenha um papel importante tanto no diagnóstico como no tratamento do cancro do endométrio e pode tanto contribuir para a deteção precoce como criar algumas complicações. Por um lado, sendo que um dos principais sintomas de alerta do cancro do endométrio é um sangramento vaginal anormal, que é muito menos comum após a menopausa, isto leva geralmente a uma investigação mais precoce. Por outro lado, com a menopausa, o aumento da exposição a estrogénios, sobretudo se associada a fatores como a obesidade, diabetes, hipertensão e uso de terapêutica hormonal de substituição, aumenta o risco de desenvolvimento do cancro do endométrio. Estes fatores de risco podem aumentar a complexidade da gestão da doente.

“Embora não haja uma forma de garantir completamente a prevenção deste tipo de cancro, é possível adotar estratégias que diminuem os fatores de risco conhecidos”

Quais os tratamentos e qual o prognóstico?

Relativamente ao tratamento, este passa principalmente pela cirurgia de remoção do útero – histerectomia total. Nas mulheres pós-menopáusicas, a cirurgia pode ser mais complexa se houver outras comorbilidades associadas, como doenças cardíacas ou pulmonares, que tornam a anestesia ou a recuperação mais difícil.

O tratamento do cancro do endométrio depende do estádio da doença ao diagnóstico, do subtipo do tumor e da condição clínica da doente.  Sendo que cerca de 80% dos cancros do endométrio são diagnosticados em estádios precoces e localizados, a cirurgia é o principal tratamento e as taxas de sobrevivência são superiores a 90% aos 5 anos. Contudo, em estádios mais avançados, quando a doença atinge os gânglios linfáticos ou outros órgãos à distância, ou em subtipos mais agressivos, o tratamento pode envolver a quimioterapia e/ou a radioterapia e o prognóstico já é pior. A deteção precoce e a abordagem terapêutica personalizada são fundamentais para melhorar as taxas de sobrevivência e a qualidade de vida.

Existe uma forma de prevenir este tipo de cancro?

Embora não haja uma forma de garantir completamente a prevenção deste tipo de cancro, é possível adotar estratégias que diminuem os fatores de risco conhecidos, como a prática de hábitos de vida saudáveis, o controlo e manutenção dum peso adequado, uma alimentação saudável e diversificada, a prática regular de exercício físico e o tratamento ou monitorização das condições de risco, nomeadamente a hipertensão arterial, diabetes mellitus e síndrome dos ovários poliquísticos.

Atualmente, não há evidência para o rastreio do carcinoma do endométrio na população em geral. O rastreio está recomendado apenas nas mulheres assintomáticas portadoras de mutações associadas a síndrome de Lynch, através de exame ginecológico, ecografia ginecológica suprapúbica e transvaginal e biópsia endometrial anual a partir dos 35 anos e até serem submetidas a histerectomia e anexectomia bilateral.

MJG

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