24 Nov, 2023

Cancro da próstata. Desafios e estratégias na reabilitação sexual e urinária

No último dia do 20.º Congresso Nacional de Oncologia, Elda Freitas, enfermeira especialista em Oncologia e responsável pelo serviço de Radioterapia da Fundação Champalimaud, falou sobre desafios e estratégias na reabilitação sexual e urinária, tema inserido na sessão central, "Radioterapia no cancro da próstata: tratamento preciso, cuidados especializados".

“Quando falamos sobre reabilitação sexual e urinária na radioterapia [para cancro da próstata] estamos a falar de alterações a nível urinário”, começa por afirmar a enfermeira. “Se alguém está constantemente a ter de interromper as suas atividades, porque tem de urinar, ou se quando vai urinar percebe que está a sair sangue, estes são fatores bastante limitadores. No que concerne à incontinência urinária, se alguém perde urina e tem de usar uma fralda ou um penso durante todo o dia, isto vai alterar a forma como a pessoa se vê e se posiciona no dia a dia.”.

Do mesmo modo, Elda Freitas menciona as alterações na sexualidade, referindo que a mais mencionada é a disfunção erétil. Porém, esta “é apenas a ponta do iceberg, porque temos também as alterações do desejo sexual hipoativo e as disfunções ejaculatórias, seja ejaculação precoce, retardada ou retrógrada, anejaculação ou hematospermia”.

“Temos muito trabalho a fazer para a capacitação dos doentes para estas alterações e para a nossa intervenção na minimização e/ou erradicação de alguns destes problemas”. Nesse sentido, a especialista afirma que existem vários desafios, mas que podem ser solucionados.

Em primeiro lugar a enfermeira destaca a escuta ativa, “que necessita de tempo”. “O tempo que, por um lado, nos vai permitir perceber e compreender quem é a pessoa que está ali à nossa frente e, em função disso, definir um plano que seja efetivamente significativo e eficaz para aquela pessoa”.

Depois, os problemas prévios. “A avaliação dos problemas prévios é um ponto fulcral quando acompanhamos estes doentes. Normalmente não estamos formatados para pensar como é que estamos a nível urinário ou sexual e o facto de fazermos as pessoas refletir sobre a sua situação atual vai permitir que percebamos a realidade.”

Neste caso, existem alguns aliados. “Temos os questionários que nos permitem avaliar as alterações urinárias, como o International Prostate Symptom Score e temos o Índice Internacional da Função Erétil que nos permite avaliar tanto alterações da ereção como alterações da satisfação sexual ou alterações da ejaculação.”

Elda Freitas dá ainda ênfase à questão das comorbilidades. “Já podemos ter hipertensão, diabetes, DPOC que influenciam também, quer a parte urinária quer a parte sexual. Este ponto de situação ajuda-nos sempre a fazer a pessoa refletir, perceber quais são os impactos e diminuir muitos medos”.

Além disso, deve ser feito um exercício de clarificação de conceitos, “de modo a que a pessoa perceba que tratamento vai realizar, que implicações é que pode trazer”, sendo que o doente deve confiar no processo e na equipa que o vai acompanhar, sem esquecer o ponto de “desmistificar a questão de que o cancro da próstata, apesar de ser o mais incidente, tem uma elevada sobrevida”, salienta.

A enfermeira refere ainda que “não há qualquer contraindicação de atividade sexual durante o tempo da radioterapia, desde que a pessoa tenha vontade e disponibilidade para tal e esteja capacitada para lidar com as possíveis alterações”.

No que diz respeito à radioterapia, as recomendações ao nível da preabilitação incidem de modo a “introduzir programas de exercício e de treino do pavimento pélvico, acompanhamento nutricional, acompanhamento psicológico e/ou intervenções que levem à redução dos níveis de stress ou de ansiedade e intervenções ao nível do bem-estar sexual”.

Segundo a especialista, “isto implica a implementação de uma estratégia multimodal”. “A primeira é a questão de simplificar, capacitar este doente para o seu autoconhecimento”, de modo a “reduzir níveis de ansiedade e otimizar o funcionamento, seja ele urinário, seja ele sexual”.

Referiu ainda a educação para a saúde, com destaque para os “pilares básicos, nomeadamente a importância da modificação do estilo de vida, com a prática do exercício físico, a cessação tabágica, os cuidados alimentares e a restrição ou moderação das bebidas alcoólicas”. Depois, “a terapêutica, capaz de ajudar a nível funcional, e os dispositivos, como a bomba de vácuo”.

Elda Freitas concluiu a sua sessão destacando uma necessidade no que se refere à reabilitação sexual, essencialmente devido aos tabus que esta temática ainda suscita, segundo indica. “Temos o desafio de mudar o paradigma”, conclui a enfermeira especialista em Oncologia.

CG

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