Bastonário dos médicos diz que ameaças de demissões em Tondela são alertas ao Governo

Miguel Guimarães reafirmou que “o investimento na saúde é uma prioridade para o país” e que o Governo “tem de apostar a sério” no SNS. Ministro da Saúde garante que a situação será resolvida em breve e diz que "é um problema entre parte do Conselho de Administração e os dirigentes".

O bastonário da Ordem dos Médicos disse esta terça-feira, em Torres Vedras, que as ameaças de demissões no Centro Hospitalar de Tondela são “um grito de alerta” ao Governo pelo desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde.

“Esta situação dos diretores de serviço [que suspenderam funções] é um grito de alerta para fazerem pressão para esta situação difícil que o ministro tem para resolver”, afirmou à agência Lusa Miguel Guimarães, reafirmando que “o investimento na saúde é uma prioridade para o país” e que o Governo “tem de apostar a sério” no Serviço Nacional de Saúde.

O bastonário dos médicos falava à margem de uma visita à unidade de Torres Vedras, no distrito de Lisboa, do Centro Hospitalar do Oeste.

“O Governo tem de olhar para isto com outros olhos, tem de investir mais na saúde, porque os 5,2% do PIB [Produto Interno Bruto] para a saúde não chegam e muito menos os 4,7% para o Serviço Nacional de saúde, quando a os países da OCDE gastam, em média, com a saúde 6,5% do seu PIB”, sustentou.

O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses advertiu hoje que há vários hospitais que poderão vir a encerrar serviços porque o Governo não autoriza a contratação de enfermeiros, segundo noticiou o Diário de Notícias. Um risco que o bastonário da Ordem dos Médicos reiterou, sublinhando que isso pode acontecer “em qualquer hospital do país”.

“O Governo anterior, pela intervenção externa da ‘troika’, acabou por desinvestir muito em algumas áreas, nomeadamente na saúde, que foi seguramente a mais afetada, e este Governo continua a deixar a saúde sem investimento”, justificou Miguel Guimarães.

Miguel Guimarães deu o exemplo do Hospital de Faro, cuja urgência “trabalha no verão em condições em que não devia ser possível trabalhar”, uma vez que chega a funcionar com “dois especialistas e oito ou nove internos”. “Se houvesse uma inspeção, o serviço de urgência teria de fechar, porque não tinha as condições de segurança adequadas”, concluiu.

O bastonário da Ordem dos Médicos defendeu que o “Governo tem de reforçar o capital humano nas várias unidades de saúde, tem de contratar os médicos de família que faltam para cada português possa, de facto, ter acesso a cuidados de saúde com facilidade, tem de renovar muitos equipamentos, muitos deles estão fora de prazo, e melhorar a estrutura física de muitos hospitais”.

A saída de enfermeiros no Hospital de Santa Maria é, para o responsável, um exemplo de que os problemas “não são exclusivos dos hospitais periféricos”, mas que se verificam também nos hospitais centrais.

“Há uma fuga [de profissionais] do setor público para o setor privado e é uma matéria importante que devia preocupar o ministro da Saúde. Acontece com médicos e com enfermeiros, que procuram melhores condições de trabalho e um incentivo diferente daquele que têm no Hospital de Santa Maria”, concretizou.

Os diretores de serviços, de unidades e coordenadores de valências do Centro Hospitalar Tondela-Viseu (CHTV) apresentaram, na segunda-feira, a suspensão de funções, em protesto contra a “degradação progressiva de vários serviços” no estabelecimento.

De acordo com o Diário de Notícias, a falta de profissionais, sobretudo enfermeiros, obrigou o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, a encerrar um setor de cirurgia e a reduzir o número de camas em pediatria.

O ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, afirmou, pouco depois, em Coimbra que a situação no Hospital Tondela-Viseu será resolvida a breve prazo.

Os diretores de serviços, de unidades e coordenadores de valências do Centro Hospitalar Tondela-Viseu (CHTV) apresentaram, na segunda-feira, a suspensão de funções, em protesto contra a “degradação progressiva de vários serviços” no estabelecimento.

“Nós temos a certeza que será resolvido a breve prazo”, afirmou hoje aos jornalistas Adalberto Campos Fernandes, sobre a suspensão de funções dos diretores de serviços.

Questionado pelos jornalistas, o ministro da Saúde referiu que, segundo teve conhecimento, “é um problema entre parte do Conselho de Administração e os dirigentes”. “A presidente da Administração Regional de Saúde e o presidente do Conselho de Administração estão a procurar resolvê-lo”, referiu.

Desvalorizando a situação, Adalberto Campos Fernandes alegou que aquilo que aconteceu no CHTV “acontece em todas as organizações”. “Por vezes, há desalinhamento entre quem dirige e quem é dirigido”, disse o ministro da Saúde.

Os responsáveis dos diferentes serviços do CHTV apresentaram na segunda-feira, formalmente, “a suspensão imediata” das suas funções na direção dos serviços” por diversas razões “alicerçadas nos inúmeros problemas particulares de cada serviço”, afirmam num documento a que a agência Lusa teve acesso.

“O desaparecimento completo da atividade do diretor clínico” e a “completamente inaceitável (e “mais grave”) substituição, em manifestações públicas da vida clínica hospitalar pelo vogal executivo [do conselho de administração]”, engenheiro [Francisco] Faro” é outro dos motivos apontados pelos subscritores do documento, dirigido ao diretor clínico e, por inerência do cargo, presidente da administração do CHTV, Cílio Correia.

“A degradação progressiva de vários serviços, alguns deles com uma influência direta e transversal na dinâmica hospitalar” que, se persistir, “terá uma repercussão irreparável no tratamento e orientação de muitos doentes”, como recentemente transmitiram aos responsáveis, é igualmente referida pelos diretores e coordenadores de serviços do CHTV para explicarem a sua decisão.

LUSA

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