“Aquecimento global e poluição serão responsáveis por um aumento considerável da morbi-mortalidade cardiovascular”

Em entrevista, no rescaldo do Congresso Português de Cardiologia 2022, o presidente do evento destaca a elevada afluência presencial, e aborda a questão do impacto das mudanças climáticas na saúde cardiovascular, um tema, diz, "para o qual a maior parte dos cardiologistas ainda não despertou".

Que balanço faz do CPC 2022, num ano de regresso ao formato presencial?

O balanço que fazemos do CPC 2022 é muito positivo. Conseguimos, como desejado, voltar a ter um congresso presencial, depois de dois anos de reuniões virtuais. Todos, incluindo a comissão organizadora e os nossos parceiros da indústria farmacêutica e de dispositivos médicos, estavam expectantes em relação à resposta dos congressistas, numa altura em que ainda se vive alguma incerteza no que diz respeito à pandemia. Mas esta resposta foi fantástica, com uma participação presencial muito elevada. Penso que todos estavam desejosos de se voltarem a encontrar presencialmente e viveu-se uma grande alegria com este reencontro durante todo o CPC. Voltarmos a estar juntos era o nosso principal objetivo e foi claramente cumprido! A este reencontro, associou-se um programa científico excecional, com intervenientes Nacionais e Internacionais de enorme qualidade em todas as áreas da cardiologia. Estamos, portanto, muito satisfeitos com o nosso congresso.

Que temas e posters estiveram em destaque este ano no CPC?

O programa científico do CPC 2022 foi construído em estreita colaboração com os Grupos de Estudo e Associações (APIC e APAPE) da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. Com base nas propostas destas estruturas, a Comissão Científica do CPC estruturou um programa diverso e amplo, que incluiu os temas mais atuais das várias áreas da Medicina Cardiovascular em 2022.

Da insuficiência cardíaca às arritmias, da doença valvular aos cuidados intensivos cardíacos, da cardiologia de intervenção e cirurgia cardíaca às miocardiopatias, da prevenção e reabilitação cardíaca à doença arterial pulmonar, das cardiopatias congénitas à imagem… tivemos sessões dedicadas todas as áreas. Por fim, nesta edição, retomámos o Ciclo de Atualização em Cardiologia. Pensado, sobretudo, para colegas de Medicina Interna, Medicina Geral e Familiar e cardiologistas sem ligação a atividade hospitalar, o ciclo tem como objetivo rever o que há de novo nas várias áreas da Medicina Cardiovascular. Incluiu cinco módulos, abordando o que há de novo em 2022 sobre prevenção primária da doença cardiovascular, novas perspetivas no tratamento da doença coronária, resolução de situações comuns na prática clínica, abordagem e tratamento das arritmias mais frequentes e ainda o essencial na avaliação inicial e seguimento da patologia valvular.

Um tema discutido foi o Impacto das mudanças climáticas nas doenças CV. O que já se sabe, de forma resumida, sobre esta questão?

Sendo as questões ambientais uma das linhas programáticas da atual direção da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, incluímos no programa uma sessão sobre o impacto das mudanças climáticas nas doenças cardiovasculares. Este é um tema para o qual a maior parte dos cardiologistas ainda não despertou, mas que terá uma importância cada vem mais marcante na nossa prática clínica. O aquecimento global, a que Portugal estará particularmente exposto, juntamente com a poluição atmosférica, serão expectavelmente responsáveis por um aumento considerável da morbi-mortalidade cardiovascular nos próximos anos e décadas. No CPC 2022, organizámos uma primeira sessão para discutir este tema, convidando peritos Nacionais e Internacionais da área. Foi uma sessão muito interessante, que teve como objectivo lançar a discussão do tema entre a comunidade cardiológica. Aproveito para anunciar que a Sociedade Portuguesa de Cardiologia irá organizara em breve um fórum apenas dedicado a este tema.

Outro tema importante é o da cardio-oncologia. Quais os desafios que se colocam ao país e à comunidade médica nesta área, numa altura em que se diagnosticam cada vez mais doenças oncológicas? É necessário aumentar a resposta no SNS, com mais consultas e clínicas de cardio-oncologia?

A Cardio-oncologia é uma área relativamente recente de diferenciação, pelo menos em Portugal. Com o aumento da esperança de vida da nossa população (incluindo nos doentes com patologia cardiovascular diagnosticada e tratada), o aumento da incidência das doenças oncológicas e o desenvolvimento de estratégias terapêuticas para o cancro cada vez mais eficazes, mas também cada vez mais agressivas, tornou-se evidente que era necessário diferenciar esta área da cardiologia. Os cardiologistas que se dedicam à cardio-oncologia trabalham em estreita colaboração com a Oncologia, não apenas na abordagem oncológica dos doentes cardiovasculares, mas também na abordagem cardiovascular dos doentes oncológicos. No CPC 2022, tivemos oportunidade de ter um dos maiores especialistas mundiais nesta área. Para além de participar uma mesa redonda dedicada ao tema, este colega aceitou também participar numa sessão mais informal, em que foram discutidas os desafios e estratégias para organizar uma clínica de cardio-oncologia. Foi muito interessante!

SO

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