15 Abr, 2025

Álcool, tabaco e sedativos mais usados por raparigas e drogas ilícitas por rapazes

As raparigas bebem, fumam e tomam mais sedativos e analgésicos do que os rapazes, que lideram no uso de drogas, revela um estudo que aponta “uma clara tendência” de descida no consumo do álcool, tabaco e droga.

Álcool, tabaco e sedativos mais usados por raparigas e drogas ilícitas por rapazes

O Estudo sobre os Comportamentos de Consumo de Álcool, Tabaco, Drogas e outros Comportamentos Aditivos e Dependências 2024 (ECATD–CAD), hoje divulgado, contou com uma amostra de 11.083 alunos, entre os 13 e os 18 anos, de 1.992 escolas do ensino público de todo o país, e resulta da aplicação do questionário ESPAD (European school survey project on alcohol and other Drugs).

Os resultados permitem constatar que “o cenário é hoje globalmente menos gravoso, sendo que os comportamentos de maior risco estão confinados a uma minoria, sendo mais esporádicos do que frequentes”, destaca o estudo do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD). Contudo, há fenómenos que, face ao estudo anterior, realizado em 2019, se tornaram mais prevalentes, como o consumo de analgésicos fortes com o intuito de ficar “alterado”, o jogo eletrónico e o jogo a dinheiro.

O álcool é a principal substância psicoativa consumida entre os jovens, seguindo-se o tabaco e, com uma expressão ainda menor, as substâncias ilícitas e determinados medicamentos psicoativos. A maioria dos inquiridos (58%) ingeriu pelo menos uma bebida alcoólica ao longo da vida, sendo que 48% bebeu nos 12 meses anteriores ao inquérito online. Entre as bebidas mais consumidas no último mês, destacam-se os alcopops (24%), a cerveja (22%) e as bebidas destiladas (22%).

Já 29% embriagaram-se ligeiramente ao longo da vida, enquanto 22% fizeram-no no último ano e 11% no último mês. A prevalência de embriaguez severa é consideravelmente menor: 19%, 15% e 6%, respetivamente. Por outro lado, 17% ingeriram bebidas alcoólicas de uma forma binge (cinco ou mais doses numa mesma ocasião), no último mês.

Um quarto dos jovens já fumou alguma vez na vida, 17% no último ano e 10% no último mês. “Embora sejam muito poucos os inquiridos que consomem tabaco diariamente”, 22% adota este padrão de consumo no caso dos cigarros tradicionais e 12% nos cigarros eletrónicos. O estudo revela que 7% dos alunos já consumiram alguma vez uma droga ilícita, sendo que 6% o fez no último ano e 3%, no mês anterior ao inquérito.

A canábis é a substância ilícita mais consumida, mas a percentagem que a usa numa base diária, ou quase diária, é inferior a 1%. Quando se considera apenas o grupo dos consumidores atuais, a percentagem sobe para 10%. Quanto aos medicamentos, o estudo aponta que 8% já tomou alguma vez na vida, por indicação médica, sedativos e 3% nootrópicos, enquanto 5% e 2%, respetivamente, os tomaram sem prescrição médica. Há 3% que diz que tomou analgésicos muito fortes pata ficar alterado.

O inquérito conclui que, “nas várias temporalidades, o consumo de álcool, tabaco, tranquilizantes/sedativos e analgésicos fortes são práticas mais femininas do que masculinas, ao contrário das drogas ilícitas”. “Se na anterior edição se falava de um claro esbatimento das diferenças de género e numa tendência de aproximação do consumo de álcool entre os dois sexos, em 2024 verifica-se que esta é já uma prática mais feminina do que masculina e, mesmo no que concerne aos comportamentos de risco acrescido, é possível constatar uma aproximação ou mesmo uma maior prevalência entre as raparigas”, salienta. Relativamente ao tabaco, a tendência de descida é cada vez mais acentuada e deve-se a “um decréscimo muito expressivo” do consumo de cigarros tradicionais, particularmente entre os rapazes.

O consumo de drogas ilícitas também se tornou menos prevalente face a 2019, sendo a descida proporcionalmente bastante acentuada de canábis ou de outras substâncias proibidas. “Face ao estudo anterior, são hoje menos os alunos que iniciam os consumos em idades precoces (13 anos ou menos), tendo a iniciação precoce ao álcool e ao tabaco de combustão descido de uma forma muito acentuada. Por sua vez, considerando o grupo dos consumidores recentes, o início do consumo de cigarros eletrónicos e de canábis faz-se hoje mais cedo do que em 2019″, refere o estudo. Também há menos alunos a considerar fácil o acesso às diversas substâncias psicoativas, sendo que a descida é mais acentuada no que se refere a cigarros tradicionais e a alcopops.

Relativamente a jogos, a maioria dos alunos joga videojogos, especialmente em dias sem aulas, dedicando-lhes várias horas diárias, enquanto o jogo a dinheiro é menos comum, mas mais prevalente entre rapazes e estudantes do ensino secundário. O estudo revela que a grande maioria dos inquiridos jogou jogos eletrónicos, no último mês (74% num dia sem escola e 65% num dia de escola), enquanto o jogo a dinheiro é uma prática muito menos prevalente: 18% jogaram a dinheiro no último ano, com destaque para lotarias, apostas desportivas e jogos de cartas/dados.

A percentagem que, no último mês, passou quatro ou mais horas diárias a jogar videojogos é de 30%, em dias sem escola, e 10% em dias de escola, refere o estudo, apontando que 39% jogaram numa base diária ou quase diária, isto é, em pelo menos quatro dias da semana anterior à realização do inquérito online. “Tanto o jogo eletrónico como o jogo a dinheiro são práticas mais masculinas do que femininas, sendo a diferença entre os dois sexos particularmente acentuada.” Por outro lado, os alunos do ensino secundário jogam mais a dinheiro do que os alunos do 3.º Ciclo, enquanto se verifica o inverso no caso dos videojogos.

Os dados revelam que o jogo a dinheiro se tornou, nos últimos 12 meses, mais prevalente, sendo que a subida se faz muito à custa de um grande aumento entre as raparigas e entre os alunos mais novos. Em comparação com o último estudo realizado em 2019, há menos jogadores a jogar em lotarias e, sobretudo, a fazer apostas desportivas, enquanto há mais a jogar cartas/dados a dinheiro e em slot machines.

Também comparativamente a 2019, o jogo a dinheiro entre os alunos distribui-se hoje por várias formas de jogo, em vez de estar concentrado sobretudo nas apostas desportivas. “Entre os respetivos jogadores, aumentou o jogo eletrónico problemático, enquanto desceu o jogo a dinheiro de maior risco associado”, salienta o estudo.

LUSA

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