AIT – Um sinal de alerta?
Serviço de Neurologia, Centro Hospitalar Universitário de São João/Coordenadora da Área Cerebrovascular, PNDCCV-DGS

AIT – Um sinal de alerta?

Chama-se acidente isquémico transitório (AIT) ao episódio em que a pessoa tem um défice neurológico focal súbito e sem explicação evidente, presumindo-se que seja de causa isquémica, recuperando espontaneamente no espaço de geralmente poucos minutos, embora a definição englobe todos os casos com recuperação espontânea (sem tratamento de revascularização) até às 24h.  Ocorre quando uma artéria da circulação cerebral oclui, levando a isquemia de um dado território cerebral, que ao deixar de funcionar provoca um défice neurológico relacionado com essa área cerebral. A diferença em relação ao acidente vascular cerebral (AVC) isquémico é que no AIT há a sorte do sistema fibrinolítico endógeno provocar a lise do trombo que ocluiu a artéria cerebral, a tempo de evitar que haja dano cerebral definitivo que leve a défice neurológico permanente.

Os sintomas podem ser muito variados, de acordo com a zona afetada – perturbação da fala, perda de força, de sensibilidade ou de coordenação num segmento corporal, perda de visão num olho ou em parte do campo visual, diplopia, desequilíbrio, ou mesmo perturbação de consciência.  Uma vez que a pessoa recupera espontaneamente, e na maioria dos casos rapidamente, há o perigo de não valorizar o que lhe aconteceu, e atribuir a alguma circunstância como “quebra de tensões”, “nervosismo”, etc. E há mesmo o perigo de os profissionais de saúde, que veem a pessoa já recuperada, não considerarem a hipótese de se ter tratado de um AIT.  Ora, como as causas do AIT são as mesmas do AVC, não se fazendo nada a pessoa pode repetir sintomas, e dessa vez, não ter a sorte de recuperar e ficar com incapacidade permanente.

Então, o que fazer na suspeita de um AIT? ESTUDAR E TRATAR COM URGÊNCIA! Um défice neurológico transitório deve levar sempre a estudo das principais causas de isquemia cerebral/retiniana e a início de medidas de prevenção secundária para evitar um AVC.

Estudo básico de doente com suspeita de AIT:

  1. Análises gerais, incluindo perfil lipídico e glicémico;
  2. Estudo cardíaco, incluindo electro e ecocardiograma e se causa ainda não esclarecida fazer registo de ECG prolongado – para detetar doença cardíaca, potencialmente embolígena.
  3. Estudo das artérias cerebrais, incluindo eco-Doppler carotídeo e vertebral cervical, e se possível eco-Doppler transcraniano – para detetar doença dos grandes vasos, mais frequentemente aterosclerótica;
  4. Exame cerebral, tomografia ou ressonância magnética cerebral – para avaliar lesões isquémicas recentes ou antigas e afastar outros diagnósticos diferenciais para os sintomas.

Tratamento de prevenção secundária:

  1. Iniciar de imediato antiagregante plaquetário;
  2. Se a causa atribuída for cardioembólica, após estudo, nomeadamente se houver evidência de fibrilhação auricular, trocar o antiagregante por anticoagulante;
  3. Se a causa atribuída for estenose carotídea a nível cervical significativa (entre 70-99%, e em casos selecionados entre 50-69%), recomenda-se revascularização no prazo de 15 dias;
  4. Manter pressão arterial <130/80mmHg;
  5. Manter o colesterol LDL <70mg/dl;
  6. Manter HbA1c <7% nas pessoas com diabetes mellitus.

 

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