17 Mai, 2023

“A prevalência estimada de hipertensão arterial na idade pediátrica na Europa é de 3-5%”

Carla Simão, Responsável pela Área de HTA e Risco Cardiovascular do Departamento de Pediatria do Hospital Santa Maria – Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, alerta para a hipertensão nas crianças e jovens até aos 18 anos.

Qual a prevalência da HTA na idade pediátrica?

A prevalência estimada de HTA na idade pediátrica na Europa é de 3-5%. Em Portugal, na população residente na região de Lisboa e Vale do Tejo e com idades entre 6-18 anos a prevalência é de 8,4%, de acordo com um estudo observacional desenvolvido e apresentado pelo Grupo de Trabalho de Hipertensão da Sociedade Portuguesa de Pediatria.

 

O que causa a HTA nesta faixa etária?

Há fatores genéticos, ambientais, individuais e um conjunto de doenças e terapêuticas farmacológicas que podem estar na origem da elevação do perfil de pressão arterial. Habitualmente, a HTA surge como resultado da conjugação de vários fatores.

“Esta avaliação deve ser realizada a todas as crianças a partir dos 3 anos de idade e abaixo dessa idade quando existirem fatores de risco”

A que sintomas se deve estar atento e que podem ser desvalorizados, nomeadamente pelos pais, por não se pensar habitualmente em HTA na idade pediátrica?

Na maioria dos casos a doença é silenciosa e só a avaliação regular da pressão arterial em consultas de vigilância de saúde permite detetar esta alteração do estado de saúde. Esta avaliação deve ser realizada a todas as crianças a partir dos 3 anos de idade e abaixo dessa idade quando existirem fatores de risco maternos (diabetes gestacional, pré-eclâmpsia) ou da própria criança (prematuridade abaixo de 32 semanas, retardo do crescimento intrauterino, baixo peso à nascença, internamento em unidades de cuidados intensivos neonatais, doenças crónicas ou medicação regular com fármacos que elevem o perfil tensional)

 

Qual é o tratamento?

Há um conjunto de medidas não farmacológicas, de promoção de saúde (controlo nutricional, controlo do peso, promoção de atividade física, prática de atividades ao ar livre, controlo do stress, promoção de um sono adequado em duração e qualidade, evicção do consumo de drogas licitas ou ilícitas, evicção da poluição atmosférica, sonora e ambiental…), que devem ser sempre implementadas e quando necessário há possibilidade de recorrer a intervenção farmacológica. Há diversos fármacos que podem ser utilizados, devendo a sua escolha ser criteriosa e adequada a cada caso.

“Os casos de HTA não diagnosticados ou não tratados de forma adequada e atempadamente podem evoluir ao longo da vida com envolvimento e lesão de órgãos”

Nos adultos, a HTA é um fator de risco de AVC. O mesmo acontece na idade pediátrica ou não existindo habitualmente comorbilidades como nos adultos, o risco é menor?

A HTA é uma doença sistémica, causadora de lesão vascular, evolui silenciosamente mas com possibilidade de originar o aparecimento precoce e evolução acelerada de aterosclerose desde idades muito jovens e por isso potencial causa de morbilidade e mortalidade por doença cardiovascular na idade adulta jovem.

De que forma evolui a doença ao longo da vida?

Os casos de HTA não diagnosticados ou não tratados de forma adequada e atempadamente podem evoluir ao longo da vida com envolvimento e lesão de órgãos alvo como o sistema nervoso central, olho, coração, rim e os vasos sanguíneos causando doença cardiovascular.  É preciso agir cedo para prevenir.

Texto: Maria João Garcia

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