25 Set, 2024

“A grande ambição é que haja uma maior facilidade de acesso e de realização da terapia CAR-T”

“BEYOND 5, juntos transformando paradigmas, perspetivando a cura com CAR-T” é o tema do evento que se vai realizar, a 27 e 28 de setembro, no âmbito das comemorações dos 5 anos de introdução da terapia com células CAR-T em Portugal. Susana Carvalho, do IPO de Lisboa e um dos membros do steering committee, fala sobre os resultados desta terapia celular, das dificuldades e das perspetivas. A hematologista deseja que, no futuro, haja uma maior facilidade de acesso e capacidade de implementação desta terapia nas diferentes patologias.

O evento BEYOND 5 está a ser realizado, pela Kite, no âmbito das comemorações dos 5 anos da introdução da terapia celular com células CAR-T em Portugal. Como vê o impacto desta introdução em Portugal desde o seu início?
É uma nova modalidade terapêutica com um mecanismo de ação diferente, que trouxe uma nova esperança tanto para os médicos como para os doentes, especialmente para aqueles que já não tinham opções terapêuticas viáveis e uma esperança de vida muito reduzida.

Por outro lado, este avanço também teve um impacto elevado. Não é uma preocupação central, mas o fator económico está sempre associado às terapêuticas CAR-T, não tanto para os médicos que as utilizam, mas certamente para quem tem cargos de chefia, de direção e de tomada de decisões. Penso que é um fator que condiciona, provavelmente, a sua realização ou o uso mais disseminado desta terapia.

Além disso, houve um impacto na reorganização logística das unidades que já faziam ou que passaram a realizar esta terapêutica. Tratava-se de uma nova modalidade terapêutica que exigia um circuito muito intrincado e uma gestão de tempos muito rigorosa. A gestão de um doente com uma doença ativa e rapidamente progressiva trouxe, por si só, desafios a diferentes níveis.

Portanto, existiram vários impactos: por um lado, uma nova esperança; por outro, a necessidade de reorganização em vários níveis.

 

 

Que resultados têm sido observados em termos de eficácia e de qualidade de vida dos doentes tratados com CAR-T em Portugal? São semelhantes aos obtidos noutros países, como Espanha e França?
Sim, os resultados são sobreponíveis aos que têm sido publicados noutros países, tanto em termos de eficácia como de qualidade de vida. Os resultados tendem a melhorar à medida que vamos avançando na nossa curva de aprendizagem com esta terapêutica. Com o tempo, conseguiremos intervir mais precocemente no manejo e na prevenção de complicações, o que certamente vai evitar mortes por toxicidade ou comorbilidades, que poderiam prejudicar, e até, em alguns casos, alterar o desfecho de doentes que estivessem em remissão completa. Mas, de modo geral, os resultados são equivalentes aos de outros países.

 

Quais são as suas expectativas para o futuro da terapia celular e, especificamente, da CAR-T em Portugal nos próximos 5 anos?
As expectativas para o futuro são, por um lado, que estes resultados possam ser melhorados, o que acredito ser possível através da curva de aprendizagem que os diferentes centros estão a fazer no país. Por outro lado, espero que haja uma maior facilidade de acesso e uma maior capacidade de implementação desta terapia nas diferentes patologias em que as células CAR-T possam ser utilizadas. Isto permitirá que os doentes cheguem a estas opções terapêuticas num melhor estado clínico e numa fase da doença menos avançada, diferente do que aconteceu com os primeiros casos, que eram bastante desesperantes. Ainda temos casos de doentes em situações muito graves, mas o objetivo é intervir mais cedo, para que não haja tanto desespero no tratamento destes doentes.

 

Acredita que a terapia CAR-T poderá, no futuro, ser utilizada em mais tipos de cancro além dos que já trata atualmente, a leucemia linfoide aguda de células B e o linfoma não Hodgkin de células B?
Acredito que sim. Não apenas noutras patologias hematológicas, mas também em neoplasias sólidas. É uma área em desenvolvimento e investigação, com desafios diferentes dos que enfrentamos nas doenças hematológicas, mas estou confiante de que a investigação encontrará soluções para esses obstáculos.

 

Que avanços ou inovações podemos esperar no campo da terapia CAR-T nos próximos anos?
A grande ambição dos hematologistas, no caso da terapia CAR-T, é que haja uma maior facilidade de acesso e de realização desta terapêutica. Que o processo deixe de ser tão complexo e que haja uma maior proximidade, com a especialização de outros centros envolvidos. Também espero que as CAR-T se tornem mais simplificadas e possam ser usadas de forma mais abrangente, tal como acontece hoje com os anticorpos monoclonais, que, apesar de serem específicos para certos linfomas, podem ser utilizados de uma maneira mais ampla. No fundo, o nosso desejo é que haja mais facilidade e uma maior disseminação na utilização destas terapias, o que se traduzirá numa maior eficácia.

 

Quais são os principais desafios da terapia com CAR-T em Portugal? É o acesso?
Em Portugal, sim. Penso que os maiores desafios são o acesso e a melhoria da logística de todo o procedimento, para que se consiga utilizar as células CAR-T mais precocemente no percurso do doente.

Outro desafio no nosso país é garantir que, independentemente do centro onde o doente esteja a ser tratado, este tenha a possibilidade de aceder a estas terapêuticas. Esse é outro obstáculo que se coloca a nível nacional, ou seja, que os doentes tratados em centros periféricos, que não sejam centros especializados em CAR-T, não sejam prejudicados.

 

Qual é a importância de eventos como o BEYOND 5 para promover a partilha de conhecimento e a reflexão sobre o futuro das terapias celulares?
A partilha de conhecimento e de experiências resulta numa melhoria, não só dos procedimentos, mas também do manejo clínico dos doentes. A grande vantagem destes eventos é promover o diálogo entre os profissionais, o que se traduz numa maior proximidade e facilitação dos contactos.

A grande vantagem destes encontros é o facto de colocarem todas as pessoas a partilhar as suas experiências, o que leva a uma maior unidade e sintonia entre os diversos intervenientes.

 

SO

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