3 F’s: “A fórmula simples e prática para detetar um AVC”
Em entrevista à SaúdeNotícias, a médica internista Ana Verónica Varela deixa conselhos-chave sobre como se deve atuar na suspeita de um AVC: a ocorrência dos 3 F’s.
No caso de suspeita de um episódio de acidente vascular cerebral (AVC), o “tempo é cérebro” como defende a especialista em Medicina Interna Ana Verónica Varela.
Quais os sinais e sintomas mais frequentes num episódio de AVC?
Existe uma “fórmula” simples e prática que nos pode ajudar e que representa os sinais e sintomas mais comuns de apresentação de um AVC. Os 3 F’s: dificuldade em FALAR (fala arrastada ou dificuldade em encontrar as palavras ou discurso incompreensível), assimetria da FACE (boca ao lado) e perda de FORÇA (perda de força repentina num braço ou num dos lados do corpo), devem ser reconhecidos e dar o alerta.
Em caso de suspeita de AVC deverá contactar imediatamente o número de emergência (112).
Existem dois tipos de AVC: hemorrágico e isquémico. Qual a incidência associada a cada um em Portugal?
O AVC continua a ser a principal causa de mortalidade em Portugal. Em 2019, representou 9,8% da mortalidade, contudo com uma ligeira melhoria em relação ao ano de 2018.
A complexidade científica, na realização de estudos de incidência e prevalência, não permite uma atualização tão frequente destes dados como seria desejado. Contudo, existem alguns estudos que nos podem dar uma ideia do panorama em Portugal. Como corroborado por dois estudos portugueses, sabemos que os AVC hemorrágicos são menos comuns que os isquémicos correspondendo a 15% e 85% dos casos, respetivamente.
Quais as consequências resultantes de sofrer um AVC hemorrágico? E quais as associadas ao AVC isquémico?
A principal diferença entre ter um AVC isquémico ou hemorrágico é a sua abordagem terapêutica na fase aguda e a identificação da sua etiologia para prevenção de futuros eventos. As consequências (sequelas e incapacidade) de sofrer um AVC, seja ele isquémico ou hemorrágico, estão intimamente relacionadas com o tempo de evolução dos sintomas com que o doente chega ao hospital e a realização de terapêutica de fase aguda, assim como, a localização e extensão da área afetada.
Após a abordagem aguda e estabilização do doente com AVC, é de extrema importância iniciar o plano de reabilitação para abordar as sequelas e incapacidades, que podem ser tão variadas como: alterações visuais, da linguagem, da deglutição, na mobilidade, na sensibilidade e até mesmo no equilíbrio e função cognitiva.
Que medidas podem diminuir o risco de ter um acidente vascular cerebral?
O rastreio, identificação e controlo de doenças como a diabetes, a dislipidemia e a hipertensão arterial são de extrema importância e devem ter o adequado seguimento nos cuidados de saúde primários.
O incentivo à cessação tabágica e o combate à obesidade e sedentarismo, com a instituição de uma alimentação equilibrada e diversificada, com redução da ingesta de sal e gorduras saturadas, acompanhado de atividade física, adequada às capacidades de cada um, são fundamentais para a “saúde das nossas artérias”.
Sendo assim, é importante reforçar a importância do papel individual de cada um nós, que é fundamental e que pode fazer a diferença na prevenção da ocorrência de AVC, na maioria dos casos, com a adoção de medidas simples no nosso dia a dia.
Que conselhos deixa sobre como agir no caso da deteção de um episódio de AVC?
Não deve esperar ou “ir descansar” para perceber se melhora! É tempo de agir e deve imediatamente ligar o número de emergência (112) e assim ser encaminhado para o hospital mais próximo e melhor preparado para atender doentes com AVC.
Os sinais que apresenta ou que vê na pessoa afetada, a que horas teve início ou então a última vez a que a pessoa foi vista bem, assim como, informação sobre as doenças que sofre e/ou a medicação crónica que toma, caso seja conhecido.
É importante saber reconhecer os sinais e agir com rapidez e de forma correta. “Tempo é cérebro”! Ter presentes os 3 F’s e passar esta mensagem ao nosso círculo de amigos e familiares pode fazer a diferença!