6 Fev, 2019

Urgência pediátrica do Garcia de Orta corre risco de fechar à noite por falta de médicos

A urgência pediátrica do hospital Garcia de Orta, Almada, corre o risco de fechar durante o período noturno por falta de médicos, estando atualmente a funcionar “em cima da linha vermelha”, denuncia a Ordem dos Médicos.

Em declarações à agência Lusa, o bastonário dos Médicos indicou que o número de pediatras nos quadros do Garcia de Orta é “insuficiente e compromete a qualidade e segurança” dos serviços prestados às crianças que vão à urgência.

O bastonário, o presidente da secção regional do Sul e outros elementos da Ordem visitaram em janeiro o Garcia de Orta e reuniram-se com profissionais e também com a administração. A visita ocorreu depois de a Ordem ter recebido denúncias que apontavam para as dificuldades sentidas na área da pediatria quanto à falta de médicos.

Para o bastonário, Miguel Guimarães, “não existem as condições adequadas de segurança clínica” ao nível da urgência de pediatria e os médicos estão a “assumir uma responsabilidade enorme ao estarem sozinhos no serviço”.

O bastonário indica que a equipa de pediatria na urgência devia ter pelo menos dois médicos e que nem isso está a ser assegurado. “É uma situação complexa e grave e pode levar a que o Garcia de Orta não consiga assegurar urgência 24 horas e sete dias por semana. Pode ter de encerrar à noite”, indicou à Lusa.

Miguel Guimarães considera que durante a noite a situação é mais complicada, porque durante o dia o serviço de urgência pode contar com ajuda do serviço de pediatria do hospital caso seja necessária uma intervenção adicional. “Será mais sensato constituir as equipas tipo com os médicos que existem e haver períodos em que não há urgência pediátrica, sendo as crianças referenciadas para outros hospitais com pediatria”, argumentou.

O bastonário lembra que “quem assume sempre a responsabilidade pelo serviço é o médico” e lamenta que ao longo dos anos “as coisas vão emagrecendo” em termos de recursos e que as pessoas vão aceitando trabalhar em condição que não são adequadas. “A probabilidade de existir alguma complicação ou erro é maior”, adverte, acrescentando que o Ministério da Saúde não tem resolvido as “deficiências graves” de recursos humanos nos hospitais.

Nove pediatras saíram para o privado

O presidente do conselho de administração do Hospital Garcia de Orta, em Almada, explicou que a falta de pediatras se deve ao fim de contrato de nove médicos, que saíram para o setor privado.

“Isto é uma situação que derivou da cessação de contrato com nove médicos, dos nossos 38 pediatras. Isto aconteceu num quadro de enorme escassez de profissionais desta especialidade em todos os serviços públicos do Serviço Nacional de Saúde, mas também no setor privado e estes nove médicos praticamente foram todos para o setor privado, certamente por condições contratuais mais atraentes”, avançou Joaquim Ferro à agência Lusa.

Contudo, o responsável adiantou que o hospital já está a avançar para a contratação de novos profissionais. “O reforço de meios temos conseguido por duas vias. Uma é o reforço do corpo clínico permanente e a outra o recurso a prestadores de serviços. No caso do reforço clínico permanente as coisas estão bem encaminhadas, já conseguimos dois médicos que esperamos que iniciem funções nos próximos dias e espero também que o próximo concurso nacional nos permita também ter mais três médicos. Conseguimos também no mercado mais 10 novos prestadores de serviços, aliás, três dos quais cedidos pelos cuidados de saúde primários, que estão nestes últimos dois meses a integrar as nossas escalas”, explicou.

Já o Ministério da Saúde assegura que o encerramento à noite da urgência pediátrica do Hospital Garcia de Orta, em Almada, está “fora de questão”, embora reconheça o problema da falta de médicos e a dificuldade de fazer escalas de serviço.

A ministra Marta Temido disse que os turnos da noite na urgência pediátrica do Garcia de Orta estão a ser assegurados por um pediatra, que é acompanhado, embora não no banco da urgência, por dois outros pediatras que estão de serviço à unidade neonatal do hospital. A ministra admite que a “situação está longe de ser a ideal” e que está, em conjunto com o hospital, a trabalhar para encontrar alternativas.

LUSA

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