Tratamento dos tumores faringolaríngeos: ressecabilidade ou qualidade de vida? – a perspetiva do cirurgião
Médico otorrinolaringologista Coordenador da Unidade de Cancro de Cabeça e Pescoço | Hospital CUF Descobertas

Tratamento dos tumores faringolaríngeos: ressecabilidade ou qualidade de vida? – a perspetiva do cirurgião

Os tumores faringolaríngeos são maioritariamente CPC (96%), e correspondem a 6% dos CPC das vias aerodigestivas superiores (VADS).

São diagnosticados em estádios avançados (estádio III e IV em 70-85%), e têm o pior prognóstico dos CPC das VADS, com sobrevidas globais aos 5 anos de 20 a 40%.

Os tumores pequenos podem ser tratados com Radioterapia ou cirurgias parciais com preservação de órgão (endoscópica, robótica ou aberta) com resultados semelhantes.

Os T3 da hipofaringe têm indicação para cirurgia, laringectomia total (LT), ou tratamentos com QRT. Atualmente o protocolo conservador de órgão é proposto aos pacientes em que o estado geral o permita, com diminuição da indicação de cirurgia (LT).

A cirurgia radical deve ser proposta aos doentes que não podem ser incluídos no protocolo de preservação de órgão (idade, contra-indicação à Quimioterapia, antecedentes de Radioterapia), ou porque já têm uma laringe não funcionante (traqueotomia).

O que nos preocupa, e deve ser avaliado, é a percentagem de pacientes que ficam com laringe não funcionante após o protocolo de preservação de órgão para os tumores da hipofaringe. A preservação de função não deve ser confundida com a preservação de órgão, devendo ser avaliada a manutenção da traqueotomia, a aspiração de alimentos e a condroradionecrose.

Os T4a da hipofaringe têm indicação essencialmente para cirurgia (LT).

As técnicas de reconstrução com retalhos livres e próteses traqueo-esofágicas (fonatórias) vieram garantir melhor reabilitação da voz e da qualidade de vida.

A abordagem multidisciplinar e a decisão personalizada são fundamentais para o tratamento destes pacientes.

O ponto de equilíbrio que pretendemos alcançar, situa-se entre a ressecabilidade, que não é incompatível com a qualidade de vida, e os tratamentos de QRT, que nem sempre implicam boa qualidade de vida.

 

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