19 Jul, 2024

Transplante de córnea. “No ano passado, superámos as 1.100 intervenções”

Nuno Alves é médico oftalmologista e coordenador do Grupo Português de Superfície Ocular, Córnea e Contactologia da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO). Em entrevista ao SaúdeOnline, apela à seleção de dadores de córnea e fala sobre os últimos avanços na área.

O transplante de córnea é uma cirurgia habitual?

Não é a cirurgia mais frequente em Oftalmologia, mas, apenas em Portugal, no ano passado, superámos as 1.100 intervenções, quer no setor público quer no privado. É um número significativo.

 

Quais as patologias mais comuns que podem levar a esta intervenção?

A córnea é uma estrutura que tem várias camadas e, até há pouco tempo, a única solução era o transplante total. Atualmente, já é possível transplantar apenas as camadas afetadas. Esta foi, de facto, uma evolução extraordinária! Nos centros diferenciados, mais de 50% dos transplantes são parciais. Estes avanços permitem-nos diminuir bastante as complicações. Com o transplante parcial é possível manter a pressurização e realizar a cirurgia por micro incisões não muita diferentes das da cirurgia da catarata – um procedimento que não é tão agressivo. Há menos complicações, o doente consegue uma recuperação mais rápida de visão e atinge níveis de visão mais elevados.

“É muito importante, porque permite recuperar visão, em alguns casos na totalidade, recuperando vidas em suspenso”

Quais as principais inovações nesta área nos últimos anos?

A córnea é uma estrutura que tem várias camadas e, até há pouco tempo, a única solução era o transplante total. Atualmente, já é possível optar somente pelas camadas afetadas. Esta foi, de facto, uma evolução extraordinária! Nos centros diferenciados, mais de 50% dos transplantes são parciais. Estes avanços permitem-nos diminuir bastante as complicações, já que durante a cirurgia, há momentos em que o olho não está pressurizado. Com o transplante parcial é possível manter a pressurização e ter acessos dentro do olho que não são muito diferentes dos de uma cirurgia a cataratas – um procedimento que não é tão agressivo. Há menos complicações, o doente recupera a visão em um a dois meses, há menos suturas (duas a três, no máximo), o que evita tocar em tecidos sãos.

“É muito importante, porque uma pessoa que só consegue contar dedos – e tendo a mão bem perto dos olhos -, vai passar a ver entre 80 a 100%”

Em 2023, houve um aumento do número de dadores (+58%), de córneas colhidas (+61,5%) e de córneas transplantadas (+69,7%) no nosso país face a 2022. Por terem sido realizados mais 466 transplantes que em 2022, foi mesmo necessário importar tecidos (+19,5% de córneas importadas). O que pode explicar esse aumento?

Nos últimos tempos, tem existindo um esforço contínuo para tornar o processo mais eficiente, desde a identificação de potenciais dadores até  ao transplante.

 

Vai manter-se essa campanha de informação?

Sim, tem de ser um reforço contínuo. Em Portugal, já é muito positivo que qualquer pessoa possa ser dadora, exigindo-se apenas a quem não o deseje, que demonstre essa vontade. Desta forma, temos sempre um grande número de dadores potenciais. Existe um esforço de melhoria contínua, desde os departamentos de Oftalmologia, os gabinetes de transplantação, o próprio Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST), para otimizarem os processos desde a identificação do dador ao transplante de córnea.

MJG

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