15 Jun, 2020

Taxa de cesarianas sobe pelo terceiro ano consecutivo

Em 2019, 29,79% dos partos realizados no SNS foram realizados por intervenção cirúrgica. Médicos alertam para maternidades tardias e excesso de peso nas grávidas.

A taxa de cesarianas nos hospitais públicos subiu pelo terceiro ano consecutivo, sendo que, antes disso, o valor mais alto tinha sido em 2013, quando a taxa de cesarianas no SNS ultrapassou os 30%. A tendência preocupa os médicos, que apontam o aumento das maternidades tardias e o excesso de peso das grávidas como possíveis causas. A estas possíveis causas, soma-se ainda a falta de recursos dos serviços.

Segundo os dados do Portal da Transparência, em 2019 foram realizados 69.244 partos, apenas mais 13 partos face ao ano anterior (69.231). Já o número de cesarianas entre os dois anos aumentou significativamente, tendo sido realizadas 20.630 em 2019, mais 1.001 face a 2018 (19.629). A taxa de cesarianas aumentou, deste modo, 1,44% entre 2018 e 2019, quando se registou a maior percentagem desde 2013, quando foram realizadas um total de 20.155 cesarianas dos 66.141 partos no SNS, o equivalente a 30,47%.

Em declarações ao Jornal de Notícias, o antigo presidente da Comissão Nacional para a Redução da Taxa de Cesarianas afirmou que “se sobe um ano, pode ser algo ocasional, mas três anos seguidos já indica que as coisas não estão a correr no sentido que nós queremos”.

 

Taxa de 29,79% é “muito preocupante”, uma vez que parece “estar a resvalar para números de 2013”

 

O antigo presidente, Diogo Ayres de Campos, apontou ainda como principais causas para o aumento recente desta percentagem a “falta de recursos e o excesso de horas extraordinárias” e o facto de “algumas pessoas que trabalham no público e no privado trazerem para os hospitais públicos alguns dos pensamentos do privado”.

A diretora do Serviço de Urgência de Ginecologia/Obstetrícia do Hospital de São João, Marina Moucho refere ainda, como possível causa, a evidência de que as grávidas atuais “são mais velhas, com mais patologias e mais gordas”. Os números do Hospital de São João demonstram isso mesmo, com 2336 partos realizados no ano passado, dos quais 15,5% foram de grávidas obesas e 34,2% de mulheres com mais de 35 anos. A médica especialista em Medicina Materno-Fetal acrescenta ainda que a estas patologias juntam-se outras como a hipertensão e a diabetes.  

Por último, Marina Moucho destaca o facto de haver mais partos pélvicos, em que o bebé está sentado. “É preciso muita experiência. Quase todos são por cesariana”, disse a médica especialista ao Jornal de Notícias.

Os dados analisados dizem respeito apenas às unidades públicas, que, segundo o Jornal de Notícias, correspondiam a 73,2% dos partos realizados em Portugal em 2018. Os restantes foram realizados em unidades privadas, nas quais apenas um terço dos partos são vaginais, valores que os especialistas consideram um “disparate”.

SO/JN

 

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