“Somos um país relativamente pequeno e continuamos a ter assimetrias no acesso à IVG”
Fátima Palma, especialista em Ginecologia e Obstetrícia na ULS São José (Maternidade Dr. Alfredo da Costa), foi a presidente da 13.ª Reunião Nacional da Sociedade Portuguesa da Contracepção, que decorreu nos dias 20 e 21 de setembro, no Hotel Pestana Palace, em Lisboa. Ao SaúdeOnline, a médica fala dos principais objetivos do evento, bem como do facto de existirem “cada vez menos centros onde as mulheres possam realizar uma IVG”.
Questionada relativamente aos maiores desafios que Portugal enfrenta no que toca ao acesso e à educação sobre contraceção, Fátima Palma destaca a “necessidade de uma melhor acessibilidade”. “Somos um país relativamente pequeno e ainda continuamos a ter muitas assimetrias, mais no acesso à interrupção voluntária de gravidez (IVG), do que propriamente no acesso aos métodos contracetivos.”
No que diz respeito à IVG, “cada vez há menos centros onde as mulheres podem recorrer para realizar um procedimento”. Além disso, mesmo no que concerne à própria lei, “acredito que seja necessário repensar a objeção de consciência”.
Já em relação aos métodos contracetivos, em termos nacionais, “o acesso é completamente díspare”. Nas região de Lisboa e Vale do Tejo e do Algarve “o acesso está extremamente confuso, há muitas pessoas que não têm sequer médico de família e, por isso, também existe alguma dificuldade no acesso ao planeamento familiar”. Em contraste, “as regiões Norte e Centro, provavelmente estão mais bem organizadas ou estruturadas, uma vez que as pessoas têm um acesso muito mais facilitado aos cuidados de saúde primários”.
Em relação às novidades futuras no âmbito da contraceção, Fátima Palma afirma que, para breve, não está para surgir nenhum “método completamente diferente de todos os outros”. Porém, “é sempre uma mais-valia aparecer um composto com constituintes ligeiramente diferentes ou numa outra combinação”, isto porque “existe sempre uma percentagem de mulheres que não sente as suas necessidades contracetivas satisfeitas e pode ser que esse novo método seja o ideal para si”.
Com o tema principal “Direitos sexuais e reprodutivos”, a 13.ª Reunião Nacional da Sociedade Portuguesa da Contracepção privilegiou a abordagem multidisciplinar de muitos temas, tendo contado com a participação de especialistas da área de Medicina Geral e Familiar. Segundo Fátima Palma, esta iniciativa deveu-se à “importância que os direitos sexuais e reprodutivos têm para ambas as especialidades”.
“O nosso grande objetivo foi aumentar o conhecimento e a divulgação dos métodos contracetivos e dos direitos sexuais e reprodutivos da população. Este ano, com foco em algumas patologias mais específicas. Pretendemos aumentar as técnicas de aconselhamento em saúde sexual e reprodutiva, para que possamos fornecer um melhor aconselhamento às nossas utentes”, explica.
Cláudia Gomes
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