20 Jun, 2022

Situação da Urgência de Faro é a de um “hospital do terceiro mundo”, dizem enfermeiros

Faltam cerca de 20 enfermeiros na Urgência do hospital de Faro, serviço que não tem espaço para uma população “que costuma triplicar” no verão”, alerta o SINDEPOR.

A situação da Urgência no hospital de Faro é “inaceitável” e semelhante à de um “hospital do terceiro mundo”, quando ainda nem se atingiu o pico do verão, alertou hoje o Sindicato dos Enfermeiros Democráticos de Portugal (SINDEPOR).

“O hospital de Faro tem outros problemas que iremos expor numa reunião com o Conselho de Administração, mas o que se passa na Urgência é inaceitável, é de um hospital do terceiro mundo e não de um país da União Europeia”, criticou Luís Mós, coordenador da região sul do SINDEPOR, que esta semana visitou a unidade.

Em comunicado, o dirigente sindical refere que, apesar de ainda não se ter atingido o pico do verão, “a situação já está de tal ordem que deveria levar os responsáveis do hospital e pela saúde em Portugal a agir de imediato”.

Luís Mós refere que no dia em que visitou a unidade de Faro do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), “às 15:15 havia 80 doentes na zona de balcão da Urgência, mas às 17:30 o número já tinha subido para 116” e ambulâncias “à espera eram sete, tendo no último domingo chegado a ser 12″.

Segundo calcula o SINDEPOR, faltam cerca de 20 enfermeiros na Urgência do hospital de Faro, serviço que não tem espaço para uma população “que costuma triplicar” no verão” e onde o “material também escasseia”, faltando macas, cadeiras de rodas e sofás para colocar os doentes, assim como ar condicionado.

De acordo com Luís Mós, os enfermeiros daquela unidade “estão extenuados” e alguns “trabalham 150, 160 ou 170 horas mensais”, existindo “vários pedidos de transferência e de mobilidade” sem resposta por parte da direção de enfermagem, “sob pena de os recursos humanos ficarem ainda mais escassos”.

Segundo descreveu um enfermeiro ao dirigente sindical, as suas férias são para “ficar de cama para recuperar”, enquanto outra enfermeira contou que recentemente assistiu a uma ambulância que chegou às 3:00 e só saiu às 9:00. “Numa manhã desta semana, o cenário no interior da Urgência era de degradação humana, com os corredores cheios de macas com doentes a precisar de cuidados, na sua maioria idosos”, refere, sublinhando que não denuncia esta situação apenas pelos enfermeiros, mas também pelos utentes.

De acordo com Luís Mós, diz quem conhece o espaço “que está a acontecer algo nunca visto: agora até já colocam macas nos acessos aos corredores”.

Segundo denunciou outro enfermeiro, “há doentes que entram na Urgência na maca dos bombeiros, são vistos e saem na maca dos bombeiros porque não há macas do hospital disponíveis”. Uma outra enfermeira apontou que a “qualidade do atendimento na Urgência regrediu 10 anos”.

“Estamos exaustos porque temos para cobrir páginas e páginas de turnos extra. O fecho de Portimão veio apenas aumentar a nossa sobrecarga de trabalho, que já é muita”, desabafou a enfermeira Cristina Galucho, que falava aos jornalistas à porta da unidade de Faro do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), depois de ter sido entregue à administração do centro um abaixo-assinado onde a equipa alerta para a “enorme pressão” a que está sujeita.

“Nós temos de cumprir 35 horas semanais, mas vamos muito além das 35. Nós fazemos 42, 44, 60, 70, o que calhar, porque a equipa não foi reforçada. E, portanto, não é só a falta de médicos, é a falta de enfermeiros”, alertou Cristina Galucho.

Cláudia Ponte, que é também enfermeira especialista em saúde maternoinfantil, acrescentou que a situação se agravou “nos últimos dois meses” e que “não estão a conseguir cumprir as dotações seguras”, porque deveria haver 12 enfermeiros por turno, quando há nove, e oito no turno da noite.

“Vou a casa dormir, tomar banho, mudar de roupa, descansar e tentar lavar alguma roupa para poder vir trabalhar e pouco mais consigo fazer”, lamentou, sublinhando que às vezes é preciso sortear quem vai ter de seguir para um segundo turno e fazer 16 horas seguidas.

Por ser segunda substituta da enfermeira chefe do bloco de partos, Cláudia Ponte assume muitas vezes o papel de chefe de equipa e, ultimamente, tem-se visto confrontada com o facto de “obrigar colegas a seguir turno”, porque “ninguém” quer seguir.

“O único critério para não seguir turno é a incompatibilidade de horário, não posso deixar alguém trabalhar 24 horas. Fora isso, não me posso preocupar se tem filhos, se tem uma consulta ou um compromisso, tenho de ter uma pessoa para seguir turno e, ou decidem entre elas, ou faço um sorteio e fica a quem calhar”, referiu.

SO/LUSA

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