Sem perdão
Já ninguém duvida que, para a Europa e para Portugal, […]

Sem perdão

Já ninguém duvida que, para a Europa e para Portugal, o maior desafio que se avizinha – em termos clínicos e para os serviços públicos de saúde – é o da resposta aos doentes crónicos, num cenário agravado por um envelhecimento acentuado e generalizado.

Será que Portugal dispõe de capacidade elástica para a resposta que precisará de ser exponencial nas duas próximas décadas?

Será que alguém acredita, para além do Senhor Primeiro-Ministro e Pater de todos os optimismos, que o actual Ministro da Saúde possa estar a pensar neste assunto?

Pese embora o também optimismo da equipa ministerial da saúde a festejar, ainda recentemente, os “sucessos” conseguidos em anos anteriores no combate ao VIH e ao panorama da situação epidemiológica nacional.

Certamente que não e vimos como nem a questão das “35 horas”, da criação de novas USF e a promoção das USF modelo A ou dos mais variados “concursos” ou das “alas pediátricas” lograram resolução em tempo útil ou decente!

Havia um velho ditado que dizia, como era, “entradas de leão e… saídas de?”

Pelo meio disto tudo continuam alguns desconhecedores do que é a realidade portuguesa a afirmar que, o problema está nos Cuidados Primários, nomeadamente quanto à procura das “urgências hospitalares” e ao efeito hospitalocêntrico sobre a população.

O problema não está nos horários de funcionamento e viu-se como, todos os anos, com a época das gripes, o prolongamento dos horários das USF não anulou a procura das urgências e em muitos casos, com distâncias de menos de 500 metros, as salas de espera se mantinham repletas nos hospitais e vazias nas USF.

Mas deveria discutir-se a possibilidade dos Cuidados Primários funcionarem 7 dias por semana e/ou em horários bem mais alargados e de forma continuada, por exemplo, porque a saúde não é um serviço administrativo como outros serviços públicos.

De facto, os dados são conhecidos mas parecem não incomodar os decisores. O INE (2014) confirmou um aumento espectacular das consultas hospitalares entre 1980 e 2012 que passou de 2,7 para quase 17 milhões!

O que isto parece traduzir é o crescimento significativo das doenças crónicas.

Este ponto é muito relevante porquanto, por um lado, as doenças crónicas são responsáveis por mais de 80% das mortes prematuras na Europa e por cá. E por outro, claro, sob o ponto de vista financeiro implicando um impacto fortíssimo (acima dos 70%) das despesas em saúde.

Na verdade os nossos doentes são tratados de modo assimétrico e num contexto de absoluta variabilidade e falta de equidade, quer na dimensão geográfica, quer inter-instituições ou unidades assistenciais.

Paralelamente sabemos da tremenda disparidade no investimento realizado ministerial e orçamentalmente entre os Cuidados Primários (e a literacia e a prevenção) e os Cuidados Hospitalares.

De igual modo, num país que se pretende e vive em ambiente de Estado Social, o peso dos longos internamentos hospitalares não deixa de crescer, na maioria das situações por casos ou necessidades especiais de apoios sociais.

Enfim era preciso estratégia e gente capaz para pensar e decidir, sem inventar truques e soluções dilatórias ou de colocação de pessoas a qualquer título.

Não é preciso inventar nada, bastaria estudar o que existe em matéria de recomendações como a da estratificação do risco dos doentes, identificação de necessidades e autocuidados, integração estruturada de familiares e cuidadores, apostas na alteração de comportamentos e hábitos de risco, mudança de paradigma para integração e continuidade de cuidados…

Mas falta competência onde sobra sobranceria.

E sobra soberba onda falta vergonha.

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