Rosa Valente de Matos. “Teremos o Hospital de Lisboa Oriental a funcionar entre 2026 e 2027”

Esperado há décadas, o Hospital de Lisboa Oriental pode abrir portas dentro de três a quatro anos. Em entrevista ao SaúdeOnline, a presidente do Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central (CHULC) - que vai gerir o encerramento e a transferência de serviços dos seis hospitais da zona central de Lisboa para Marvila -, explica as mais-valias na concentração de serviços no novo hospital e o que esteve na origem dos atrasos no processo.

O Hospital de Todos-os-Santos, agora designado de Lisboa Oriental, é uma infraestrutura prometida há décadas para a cidade de Lisboa. A administração do CHULC tem estado envolvida no processo, que se voltou a atrasar. Quando estima que o hospital possa abrir portas?

 O Hospital de Lisboa Oriental é o mais esperado a nível nacional. Eu tenho acompanhado o projeto desde 2017, quando era presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), e quando à época o ministro da saúde Adalberto Campos Fernandes deu indicação para que fosse lançado o concurso. Foi nomeado um júri e começámos a trabalhar. Foram apresentadas oito propostas e analisadas quatro delas. No ano passado, a construção foi adjudicada à Mota-Engil. Neste momento, estamos na fase de assinatura do contrato. A partir desse momento, o processo deve demorar 36 meses até à sua abertura. Penso que, a correr tudo dentro da normalidade, teremos o Hospital de Lisboa Oriental a funcionar entre 2026 e 2027.

O que fez atrasar o processo?

 Foi um concurso muito complexo, envolvendo um investimento de quase 340 milhões de euros. Tivemos de desenhar e construir um grande hospital. Tivemos, ao mesmo tempo, a preocupação de que o processo fosse completamente transparente, para evitar impugnações e recursos em tribunal. Por outro lado, todo o processo foi conduzido por profissionais da ARSLVT, da ACSS e do centro hospitalar, com alguma assessoria externa. Tudo isso teve impacto no cronograma do processo, que acabou por demorar mais tempo do que aquilo que prevíamos.

“O novo hospital vai facilitar a gestão, vai permitir melhorar a comunicação entre profissionais”

Que mais-valias encontra na concentração de serviços num único hospital?

Antes de mais, uma maior eficiência. Neste momento, o CHULC funciona em estruturas com séculos. Temos 134 edifícios, com elevados custos em termos de funcionamento, dispersão e manutenção. Dou–lhe o exemplo das três urgências abertas, no Hospital de São José, na Maternidade Alfredo da Costa e no Hospital D. Estefânia, com 12 a 16 anestesiologistas alocados. E sabemos da carência destes profissionais a nível nacional. Com uma urgência única, poderíamos alocar alguns destes profissionais aos blocos cirúrgicos, por exemplo, e aumentar a nossa capacidade cirúrgica.

Por outro lado, o novo hospital vai facilitar a gestão, vai permitir melhorar a comunicação entre profissionais.

A população de Lisboa está cada vez mais envelhecida. Com a deslocalização dos serviços de todos os seis hospitais do CHULC (São José, Santa Marta, D. Estefânia, Maternidade Alfredo da Costa, Curry Cabral e Capuchos) para a zona de Marvila, a população que vive na zona mais central da cidade pode deixar de ter cuidados de proximidade?

O CHULC é um centro hospitalar com alta diferenciação técnica e científica. Somos, por exemplo, o único centro a fazer transplantes pulmonares e a ter cirurgia robótica no Serviço Nacional de Saúde. Portanto, penso que têm de existir hospitais de proximidade e hospitais mais especializados.

Preocupa-a a distância a que o novo hospital vai ficar da zona central da cidade?

Em termos de transportes, a Câmara Municipal e as juntas de freguesia podem ajudar muito na circulação. Penso que não será um obstáculo. Se calhar termos aqui, nesta zona de Lisboa, no futuro, um hospital de proximidade tem alguma lógica. Mas isso tem a ver com a política de saúde que for definida.

O futuro hospital terá uma capacidade de internamento inferior à capacidade atual dos seis hospitais do CHULC?

O hospital foi dimensionado para servir um determinado número de população. O novo hospital terá cerca de 850 camas, mas que podem chegar às 1150. A maior parte serão quartos individuais, mas alguns podem duplicar. Atualmente, o CHULC tem cerca de 1250 camas.

 Teremos um Hospital de Lisboa Oriental subdimensionado, com falta de capacidade de internamento?

 A saúde evolui, as práticas clínicas estão em constante desenvolvimento e o hospital do futuro será muito mais ágil, muito mais resolutivo. Dou-lhe o exemplo das cataratas. Há alguns anos, a operação às cataratas implicava um internamento de quase uma semana. Hoje, passadas umas horas, o doente vai para casa. Não nos podemos esquecer que a evolução das últimas décadas tem permitido aumentar a ambulatorização dos cuidados, devido a novas técnicas, novas terapêuticas e outras respostas de saúde, como a hospitalização domiciliária ou os cuidados continuados integrados.

A transferência de serviços para o novo hospital já está a ser trabalhada? Será gradual?

A transferência tem de ser feita com serenidade, envolvendo os profissionais. Está já a ser trabalhada a nível técnico, nomeadamente no que diz respeito aos equipamentos.

O que vai acontecer aos seis hospitais do CHULC?

Não sei.

O conselho de administração do CHULC não vai ter nenhum papel na decisão sobre o futuro destes hospitais?

Não me foi pedida nenhuma intervenção.

SO

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