Reabilitação Respiratória. “Os centros do SNS são poucos e não conseguem dar resposta”
Hoje assinala-se o Dia Nacional da Reabilitação Respiratória. Patrícia Garrido, pneumologista da Unidade de Pulmão – Fundação Champalimaud, alerta para a importância deste tratamento que ainda não está disponível para todos os doentes.
A DPOC e o cancro do pulmão continuam a ser as doenças respiratórias com maior impacto e taxa de mortalidade?
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, conhecida por DPOC, é uma doença respiratória com agravamento progressivo da função respiratória, salientando que os doentes frequentemente apresentam diversas comorbilidades associadas, com forte impacto na qualidade de vida e nos custos indiretos para o doente e sociedade. Corresponde a uma das três principais causas de morte em todo o mundo e a OMS estima um aumento de cerca de 30% de mortalidade por DPOC durante esta década. O cancro do pulmão é o segundo tumor mais diagnosticado no mundo e a primeira causa de mortalidade oncológica com 1,8 milhões de mortes (18%), segundo a GLOBOCAN 2022. Sendo a DPOC e o Cancro do Pulmão patologias “silenciosas”, o diagnóstico tardio, em estádios avançados da doença, contribuem para estes números. Carecem de políticas de educação para a saúde com sensibilização da sociedade e profissionais de saúde, nomeadamente da implementação de programas de rastreio.
“Corresponde a uma intervenção que inclui treino de exercício, mas não se limita apenas a esta abordagem, condicionando alterações de comportamento, promovendo adesão aos tratamentos, ajudando na adaptação à doença com apoio de uma equipa multidisciplinar”
Quais as mais-valias da reabilitação respiratória (RR) no caso da DPOC e do cancro do pulmão?
A reabilitação respiratória é por definição um programa integrado, adaptado a cada doente, e a cada momento do percurso da doença deve ser referenciado qualquer doente cuja doença respiratória condicione algum impacto nas suas atividades de vida diária. Corresponde a uma intervenção que inclui treino de exercício, mas não se limita apenas a esta abordagem, condicionando alterações de comportamento, promovendo adesão aos tratamentos, ajudando na adaptação à doença com apoio de uma equipa multidisciplinar (i.e. psicólogos, nutricionistas, assistente social). O objetivo principal é sempre promover a qualidade de vida através da redução de sintomas (i.e. fadiga, dor, dispneia), bem como a prevenção do declínio da capacidade física, diminuição das exacerbações infeciosas ou outras e resultante na redução de internamentos. Nas doenças oncológicas, em particular no cancro do pulmão, há diversos estudos clínicos que evidenciam um maior impacto na qualidade de vida se a referenciação for precoce, inicial, conjuntamente com as decisões da terapêutica dirigida à doença oncológica em detrimento de uma referenciação pontual, mesmo em estádios metastáticos.
Que outras patologias respiratórias podem beneficiar de RR?
Todas as patologias com afeção respiratória. Falo de patologia do interstício como a fibrose pulmonar, doenças neuromusculares, bronquiectasias, asma grave, patologia da pleura.
“Existe falta de informação da sociedade e profissionais de saúde sobre o que é a RR, seus benefícios e indicações. Existe o (pre) conceito da integração de RR apenas nos doentes cirúrgicos”
Como avalia atualmente o acesso a RR em Portugal?
Continua a ser muito difícil. Existem diferentes camadas de responsabilidade. Existe falta de informação da sociedade e profissionais de saúde sobre o que é a RR, seus benefícios e indicações. Existe o (pre) conceito da integração de RR apenas nos doentes cirúrgicos. Os centros onde se faz RR do SNS são poucos e não conseguem dar resposta ao número de doentes, que mesmo assim fica muito aquém do desejável. Não existe sensibilização dos diferentes subsistemas de saúde para esta temática e daí resulta a ausência ou escassa comparticipação dos tratamentos de RR.
Além do acesso a RR no hospital, na sua opinião faz sentido que haja também projetos de RR nos cuidados de saúde primários?
Faz todo o sentido. Seria fundamental para um acesso precoce e fácil – a “globalização” da RR. Se analisarmos o custo/benefício da intervenção da RR no doente com DPOC existe um evidente impacto positivo na perda de anos de vida evitados (QALY – Quality Adjusted Life Years) com uma abordagem custo-efetiva muito bem exemplificada pela pirâmide elaborada por um grupo de trabalho (The London Respiratory Network – LRN) do Reino Unido publicada em 2012.
SO
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