6 Nov, 2025

“Queremos um congresso que forme e também inspire”

Goreti Catorze, secretária-geral SPDV, explica a visão e os princípios que orientaram a construção do programa científico do 24.º Congresso Nacional de Dermatologia e Venereologia.

“Queremos um congresso que forme e também inspire”

Quais os principais objetivos na definição do programa científico do 24.º Congresso Nacional de Dermatologia e Venereologia?
O principal objetivo foi construir um programa cientificamente sólido, diversificado e atual, que reflita a vitalidade e a abrangência da Dermatologia portuguesa. Pretendeu-se que este congresso fosse um espaço de partilha, atualização e reflexão, integrando as diferentes áreas da especialidade sem esquecer a participação ativa de todos – desde os internos aos especialistas mais experientes

 

Quais os critérios que presidiram à escolha dos temas e formatos das sessões?
As escolhas basearam-se em três eixos: atualidade científica, diversidade de formatos e participação transversal.

Incluímos sessões tradicionais (casos clínicos, comunicações livres), simpósios temáticos e conferências inovadoras, como “À flor da pele: entre o visível e o invisível”, que junta medicina e cinema.
O equilíbrio entre o rigor científico e a criatividade foi intencional –  queremos um congresso que forme e também inspire.

 

Quer destacar algum ou alguns dos temas ou sessões a realizar durante o congresso?
Há vários momentos de grande interesse que esperamos sejam do agrado dos congressistas. Enumero alguns deles de forma totalmente aleatória.

  • O simpósio “Truques e Dicas – o que melhor funciona na minha experiência pessoal”, que mostra a Dermatologia prática e próxima da realidade do consultório.
  • A conferência “À flor da pele: entre o visível e o invisível”, conduzida pelo psiquiatra e crítico de cinema Roma Torres, seguida de excertos de “Querido Diário – os médicos”, de Nanni Moretti — um momento que liga arte e medicina.
  • O simpósio SPDV Jovem, centrado no doente sob terapêutica imunossupressora ou biológica, e o simpósio luso-espanhol SPDV/AEDV, que reforça a colaboração ibérica.
  • A mesa-redonda “Estado da Arte” reunirá especialistas nacionais e internacionais para discutir temas de grande atualidade — desde a modificação da história natural das doenças inflamatórias cutâneas até aos desafios diagnósticos no nevo displásico e nos linfomas cutâneos — e incluirá ainda uma reflexão essencial sobre as indicações de fármacos off label em Dermatologia, um tema relevante na prática clínica.
  • E, finalmente, o curso pós-congresso sobre linfomas cutâneos de células T, que encerra o evento com uma abordagem muito completa — da clínica à biologia molecular e à terapêutica.

 

O programa inclui conferências com perspetivas interdisciplinares, como a do psiquiatra Roma Torres e do cardiologista Carlos Aguiar. Qual o objetivo de integrar outras áreas médicas no congresso nacional de Dermatologia?
A pele é um espelho da saúde global e das emoções humanas. A interação com outras áreas médicas tem como objetivo ampliar o olhar sobre o doente, reforçando a importância da abordagem holística e interdisciplinar. As conferências do Dr. Roma Torres e do Dr. Carlos Aguiar convidam à reflexão sobre a ligação entre a pele, o coração e a mente, e sublinham que o dermatologista deve dialogar com outras especialidades para compreender plenamente o impacto sistémico e psicológico das doenças cutâneas.

 

O concurso de fotografia volta a marcar presença. Qual a importância e os objetivos do mesmo?
O concurso de fotografia dermatológica (clínica, dermatoscópica e histológica) tornou-se uma marca do congresso e uma forma de celebrar a sensibilidade e o olhar artístico dos dermatologistas. A fotografia, tal como a dermatologia, exige observação, detalhe e emoção. Pretende-se valorizar essa dimensão estética e humanista da nossa profissão, criando um espaço de expressão e partilha que ultrapassa o domínio científico e reforça o sentido de comunidade.

 

No último dia, realiza-se o curso pós-congresso sobre linfomas cutâneos de células T. Por que foi escolhido este tema e que lacunas ou necessidades pretende colmatar?
Os linfomas cutâneos de células T são doenças complexas, que exigem diagnóstico precoce, acompanhamento multidisciplinar e terapêutica especializada. Apesar dos avanços, subsistem desafios no diagnóstico diferencial, na classificação e na abordagem terapêutica. O curso foi concebido para responder a essas lacunas, proporcionando uma atualização abrangente e prática, com contributos multidisciplinares de especialistas nacionais, e será uma oportunidade única de formação dirigida a clínicos com interesse nesta área.

 

Como está a ser a experiência de organizar um congresso com esta dimensão?
É uma experiência exigente, mas profundamente gratificante. A organização de um congresso nacional desta envergadura implica coordenação, rigor e espírito de equipa, mas também entusiasmo e criatividade. Tem sido um privilégio ver o envolvimento de tantos colegas, a colaboração das secções especializadas da SPDV e dos grupos de estudo, e o apoio das instituições parceiras. O resultado final será, certamente, motivo de orgulho para a Eermatologia portuguesa.

Uma palavra para a imagem que esteve na base do cartaz deste congresso: uma fotografia tirada por mim (num dia 5 de outubro) da escadaria da Assembleia da República portuguesa, a sede do poder democrático. Não escolhi a vista do edifício onde se exerce esse poder mas do lado oposto, a quem ele se dirige. Esse é o lado que verdadeiramente importa.  A conversão dessa foto em aguarela dá-lhe o toque artístico que faz sempre falta no nosso quotidiano.

Que mensagem gostaria de deixar aos congressistas?
Que venham com curiosidade, com espírito de partilha e com vontade de reencontrar colegas e amigos. Que aproveitem o congresso não apenas para aprender, mas também para se inspirar e fortalecer os laços que nos unem enquanto comunidade científica e humana. A Dermatologia portuguesa tem hoje uma voz forte e respeitada — este congresso é a celebração desse caminho e o ponto de partida para os desafios que ainda nos esperam.

Sílvia Malheiro

Notícia relacionada 

“A estratégia é cumprir os objetivos que traçamos na nossa candidatura e que apresentamos aos sócios de forma transparente”

ler mais

Partilhe nas redes sociais:

ler mais