30 Jul, 2020

Quebra de 52% nas idas às urgências psiquiátricas durante estado de emergência

Estudo aponta para impacto da Covid-9 nas idas às urgências de psiquiatria durante estado de emergência. A diminuição do recurso aos serviços é mais acentuada entre jovens e mulheres.

Idas às urgências psiquiátricas na região metropolitana do Porto durante o estado de emergência caíram 52%, ficando-se pelos 780 episódios. Receio de sobrecarregar os serviços de saúde, imposições durante confinamento e medo de infeção pelo novo coronavírus são algumas das razões apontadas pelo estudo.

Na região metropolitana do Porto, que abrange “cerca de três milhões de habitantes”, a ida às urgências psiquiátricas durante o período em que vigorou o estado de emergência, decretado devido à pandemia de Covid-19, verificaram uma descida de 52%. Em causa está o intervalo compreendido entre 19 de março e 2 de maio. Em comparação com o intervalo homólogo em 2019, em que se registaram 1.633 idas às urgências de Psiquiatria, neste ano, reportaram-se apenas 780 episódios.

Os dados são avançados pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), cujos investigadores, em conjunto com o Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), desenvolveram o estudo.

Para compreender as causas por detrás desta diminuição, os investigadores tentaram caracterizar o fenómeno. No estudo, lê-se que a redução é mais acentuada entre jovens e mulheres, ainda que as “últimas contabilizem a maioria dos episódios”.

Paralelamente, foram os doentes com perturbações do humor, como depressão, que apresentaram a “queda mais significativa”, com uma redução de episódios a rondar os 68%. Por outro lado, nos doentes com esquizofrenia ou outras perturbações psicóticas, a descida foi “de apenas 9%”.

Entre as razões para esta quebra na procura dos serviços de urgência nesta especialidade, o estudo aponta para a preocupação dos indivíduos de não sobrecarregar os serviços de saúde, para as restrições impostas pelo confinamento e para o medo de infeção pelo novo coronavírus.

Os idosos, os doentes com incapacidade intelectual e as pessoas em situação de desemprego são os grupos considerados mais vulneráveis, pelo que os investigadores alertam para o facto de a interrupção de determinados tratamentos em consequência do encerramento de alguns serviços “poder provocar maior destabilização em certos grupos de doentes”.

Manuel Gonçalves-Pinho, médico investigador da FMUP e do CINTESIS, citado no comunicado de hoje divulgado pela FMUP, declara que a Covid-19 teve um “importante impacto” no respeitante às idas às urgências, tanto em termos quantitativos (número) como em termos qualitativos (características).

Por esse motivo, defende que a saúde mental tem ser perspetivada “como uma verdadeira prioridade”. Manuel Gonçalves-Pinho sublinha ainda a necessidade de repensar o modelo de urgência e de acesso aos cuidados de Saúde Mental.

Outro autor do estudo citado, Pedro Mota, do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa, acrescenta que as diminuições ocorreram “principalmente entre os doentes com situações clínicas consideradas não urgentes”. Não obstante esse dado, o investigador reitera que o impacto da Covid-19 na saúde mental dos portugueses “é bem notório”, em consequência da própria doença, “mas também fruto das reformulações sociais e económicas”.

O estudo insere-se no projeto 1st.IndiQare, financiado pelo FEDER- Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, através do COMPETE2020 e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), e foi aprovado para publicação na revista científica Psychiatric Quarterly.

LUSA/SO

 

[box] Notícias Relacionadas:

Urgências: “Não há condições para referenciar utentes pouco urgentes para médicos de família”

Federação Nacional dos Médicos (FNAM) diz que profissionais estão já sobrecarregados com a recuperação da atividade assistencial que foi adiada por causa da pandemia.

Consultas, urgências e cirurgias no SNS aumentaram em 2019

Dados constam do relatório do Conselho de Finanças Públicas sobre a evolução orçamental do SNS entre 2013 e 2019.

[/box]
Print Friendly, PDF & Email
ler mais
Print Friendly, PDF & Email
ler mais