9 Fev, 2021

Pandemia com “tendência decrescente”, mas medidas devem manter-se até abril

O epidemiologista Baltazar Nunes defende o "prolongamento destas medidas por mais dois meses" de modo a aliviar a ocupação nas UCI dos hospitais e também diminuir o nível de incidência.

O pico da terceira vaga da epidemia de covid-19 foi atingido em Portugal a 29 de janeiro com 1.669 casos cumulativos a 14 dias por 100 mil habitantes, com uma “tendência decrescente”, disse hoje André Peralta, da DGS.

Na abertura da reunião do Infarmed, que reúne especialistas, o Presidente da República, o primeiro-ministro, a ministra da Saúde e partidos, André Peralta fez o retrato da situação epidemiológica no país, afirmando que “à data de hoje a situação é mais favorável”.

Segundo o especialista, a terceira vaga teve o pico a 29 de janeiro e tem tido uma variação semanal de menos 24%, adiantou diretor de Serviços de Informação e Análise da Direção-Geral da Saúde (DGS), durante a reunião no Infarmed, em Lisboa.

“A região de Lisboa e Vale do Tejo tem, na maioria dos municípios, uma incidência de mais de 960 casos por 100 mil habitantes e em alguns concelhos superior a 1920. À data de hoje a situação é mais favorável”, afirmou o especialista da DGS.

 

Variante britânica com mais força em Lisboa e Vale do Tejo

 

Salientou ainda que “há uma progressão da proporção de casos confirmados com a nova variante” associada ao Reino Unido, que tem “maior foco” na região de Lisboa e Vale do Tejo.

Contudo, afirmou, “este nível de confinamento parece suficiente para inverter a tendência mesmo nas áreas onde há maior prevalência da variante inglesa”.

“No início de janeiro a epidemia estava em franco crescimento e à medida que nos aproximamos do final de janeiro” começa a haver um decréscimo da incidência por todo o país, à exceção da Região Autónoma da Madeira, adiantou André Peralta.

Relativamente às faixas etárias, o investigador afirmou que há uma “tendência decrescente” em todas as idades e é generalizado pelo território. As faixas etárias acima dos 60 anos são as que geram “maior preocupação” em termos de hospitalização e de mortalidade.

“O panorama é de um grande aumento da faixa etária mais vulnerável dos 80 e mais anos, que atingiu incidências realmente muito elevadas, e uma manutenção do comportamento das duas faixas etárias 60, 70 e 70, 80 que são tradicionalmente em termos de faixas etárias as mais protegidas em comparação com todas as faixas etárias”, explicou.

André Peralta adiantou que o comportamento da faixa etária dos 80 e mais anos ajuda a explicar a pressão sobre os sistemas de saúde. Segundo o especialista, as hospitalizações em Unidades de Cuidados Intensivos e as hospitalizações totais já apresentam uma indicação da formação de um pico, “mas ainda sem tendência claramente definida”.

Relativamente à mortalidade, afirmou que se observou “um aumento bastante expressivo durante o mês de janeiro”, quase três vezes em relação ao pico de dezembro, mas já com a formação clara de um pico na primeira semana de fevereiro.

 

Rt abaixo de 1, com “redução clara” da incidência

 

O confinamento e as medidas de restrição resultaram numa descida do índice de transmissibilidade (Rt) do vírus para valores abaixo de 1, revelou hoje o epidemiologista Baltazar Nunes, do Instituto Ricardo Jorge (INSA).

“O valor que estimamos para o Rt para a média dos últimos cinco dias analisados, que corresponde ao período do dia 30 de janeiro a 03 de fevereiro aponta para um Rt de 0,82. Este é um valor baixo, que indica uma redução da incidência de forma clara. O Rt encontra-se abaixo de 1 em todas as regiões do continente e nos Açores, estando apenas na Madeira com um valor de 1,13, que indica uma fase de crescimento”, frisou.

O responsável pela Unidade de Investigação Epidemiológica do INSA enfatizou a importância das medidas de restrição aplicadas em meados de janeiro, que se traduziram numa “redução muito mais acentuada da transmissibilidade” do vírus SARS-CoV-2.

“Estávamos com um Rt máximo de 1,24 no dia 04 de janeiro e foi possível trazer o Rt para baixo de 1, estimado para 0,78 para o último dia de análise, no dia 03 de fevereiro”, declarou Baltazar Nunes, acrescentando: “O primeiro pacote de medidas, implementadas a partir de 15 de janeiro, representa uma redução da incidência da ordem dos 2,1% ao dia, traduzindo isto para um tempo de redução para metade de 33 dias, e depois o segundo pacote, onde está incluído o fecho das escolas, que reduziu para metade a cada 9 dias”.

Perante estes dados, o investigador do INSA sublinhou que um prolongamento destas medidas por mais dois meses será essencial para aliviar o nível de ocupação nas unidades de cuidados intensivos dos hospitais e também diminuir o nível de incidência acumulada a 14 dias, que segundo Baltazar Nunes, “ainda se encontra a níveis considerados extremamente elevados”.

“Precisamos de manter estas medidas de confinamento por um período de dois meses para trazer o número de camas ocupadas em cuidados intensivos abaixo das 200 e a incidência acumuladas a 14 dias abaixo dos 60 casos por 100 mil habitantes”, explicou.

Por outro lado, o especialista do INSA assinalou a redução da mobilidade em Portugal por comparação com outros países europeus, ao destacar a evolução de uma maior mobilidade no início do ano para uma situação atual de mobilidade muito reduzida.

“Mais recentemente, a partir de 19 de janeiro – quando as medidas são introduzidas – começámos a ver que Portugal passa para os países com redução de mobilidade e, atualmente, Portugal é o país com uma redução de mobilidade mais acentuada na União Europeia, com uma diminuição na ordem dos 66%”, sentenciou.

 

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