18 Set, 2024

Ordem dos Enfermeiros fala em falta de investimento no Hospital de Ponta Delgada

A falta de investimento no Hospital do Divino Espírito Santo e o reduzido número de novos profissionais de saúde nas unidades de saúde dos Açores, que tem levado muitos enfermeiros a uma situação de exaustão, são algumas das preocupações referidas pelo presidente da Secção dos Açores da Ordem dos Enfermeiros.

O presidente da Secção dos Açores da Ordem dos Enfermeiros, Pedro Soares, queixa-se da falta de investimento no Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, problema que diz ser muito anterior ao incêndio de 4 de maio.

“O HDES sofreu um grande desinvestimento ou desinteresse nos últimos anos e isso, infelizmente, mais tarde ou mais cedo, haveria de ter consequências de alguma forma, e isso já se vinha a notar nos cuidados que eram oferecidos à nossa população”, lamentou Pedro Soares, durante uma audição na Comissão de Assuntos Sociais do parlamento açoriano, reunida em Ponta Delgada.

O presidente da Ordem dos Enfermeiros no arquipélago, foi ouvido pelos deputados, a propósito da resposta dos profissionais de saúde ao incêndio que ocorreu no HDES, a 4 de maio passado, e que levou ao encerramento temporário da maior unidade de saúde dos Açores e à transferência de doentes para outras ilhas e também para o arquipélago da Madeira.

Pedro Soares garante que os enfermeiros açorianos deram a devida resposta numa situação de catástrofe, mas lembra que a falta de recursos humanos nas unidades de saúde dos Açores tem levado muitos enfermeiros a uma situação de quase exaustão.

“O cansaço dos enfermeiros não vem do dia 4 de maio, do dia do fogo. O cansaço dos enfermeiros já vem de trás. Nós estamos a navegar nos Açores, no sistema regional de saúde, em muitas instituições – e o HDES é exemplo disso – abaixo das dotações seguras”, lembrou aquele responsável de enfermagem.

A Ordem dos Enfermeiros está também preocupada com o reduzido número de novos profissionais de saúde que são formados anualmente e que integram os centros de saúde e hospitais da Região, que no seu entender, não dão resposta às necessidades do arquipélago.

“Nós temos um problema muito grande daqui a 4 ou 5 anos. Nós estamos a formar cerca de 80 enfermeiros e dentro de 4 a 5 anos, cerca de 160 enfermeiros começam a sair para a reforma, ou seja, nós não formamos um número mínimo para colmatar aqueles que vão sair do sistema regional de saúde”, advertiu.

Pedro Soares, que foi ouvido a pedido da bancada do PSD na Assembleia Regional, entende também que o Hospital de Ponta Delgada não podia ter reaberto as suas portas, sem a realização de obras, contrariando a opinião do engenheiro eletrotécnico, João Mota Vieira, que elaborou o relatório técnico sobre o acidente no HDES.

“Quando nós ouvimos publicamente se falar que bastava fazer uma limpeza no edifício que foi atingido pelo fogo, e que podíamos voltar a colocar os utentes todos lá, eu tenho de lamentar estas afirmações porque isto é uma falta de conhecimento técnico do que são cuidados de saúde. Isto é um desrespeito pelos utentes e pelos profissionais de saúde”, insistiu o presidente da Ordem dos Enfermeiros.

Pedro Soares referiu-se também ao hospital modular, que, entretanto, foi instalado pelo Governo junto ao HDES, para retomar os cuidados de saúde primários aos utentes da região, para dizer que aquela unidade provisória, “é a melhor solução”, em termos de apoio aos profissionais de saúde, nesta fase.

“Do ponto de vista prático, é para nós o mais acertado, termos ali um ponto, que é o hospital modular, de prestação de cuidados, mas que é obviamente, um ponto de apoio, enquanto tivermos o edifício principal em obras, alterações e reconstrução”, defendeu o responsável pela Ordem dos Enfermeiros nas ilhas.

Os deputados do parlamento açoriano pretendiam também ouvir um representante da Ordem dos Médicos nos Açores, a este propósito, mas a audição, inicialmente marcada para esta terça-feira, foi adiada

 

LUSA

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