Médico especialista em Ginecologia e Obstetrícia. Subespecialista em Medicina de Reprodução na AVA Clinic Lisboa
O que é uma FIV e como engravidar com fertilização in vitro
A FIV (abreviatura de Fertilização in vitro) é uma técnica de Reprodução Medicamente assistida usada para conseguir obter uma gravidez numa mulher ou casal com infertilidade. O nome desta Técnica / Tratamento, provém do facto da junção do óvulo e do espermatozoide (fertilização dos gâmetas) ser realizada e assistida num laboratório (in vitro)
A FIV é um processo que dura cerca de 2 a 3 semanas e culmina na transferência de um ou dois embriões para o útero
O primeiro bebé, por via desta técnica, surgiu em 1978, em Inglaterra, e até hoje foram concebidos mais de 5 milhões de crianças deste modo. Em Portugal, realizava-se o nascimento do primeiro bebé-proveta em 1984 e desde 2016, a Fertilização In Vitro está acessível a todas as mulheres, sejam solteiras, casadas, heterossexuais ou homossexuais.
Resumidamente, consta de 3 fases:
- Estimulação ovárica e monitorização
- Colheita dos gâmetas (Punção dos ovários /recolha do esperma) e fertilização
- Transferência dos embriões para o útero
- Estimulação Ovárica e monitorização da resposta
Na mulher em idade reprodutiva, habitualmente, só se desenvolve um óvulo por ciclo menstrual. Por este facto, a probabilidade de ocorrer uma gravidez por ciclo menstrual, é em média 15 – 20%; (por este facto, se aceita como normal, que um casal tente a gravidez sem preocupações, durante um período de 6 – 12 meses); para aumentar a probabilidade de engravidar, estimulam-se os ovários com hormonas específicas, de forma a obter mais óvulos em condições de serem fertilizados.
Num ciclo FIV, este processo demora entre 10 – 14 dias e a resposta à medicação, é controlado por ecografia vaginal.
- Colheita de gâmetas e Fertilização
É habitualmente um dia programado, se sequência de um dos controlos ecográficos feitos na etapa anterior (1.); e consta de:
– Recolha dos óvulos – através da punção folicular, processo realizado num bloco operatório, sob a anestesia e controlo ecográfico, e consiste na aspiração dos óvulos do ovário.
– Recolha do esperma – feita habitualmente sob masturbação, também pode ser através de biopsia de testículo; situações há em que os tratamentos ocorrem com o recurso a esperma doado.
Os gâmetas (óvulos e espermatozoides) são tratados no laboratório por embriologistas e realizada a fertilização para obter os embriões.
- Transferência de embriões
Consiste no ato de colocar um ou mais embriões (habitualmente não mais de dois) dentro do útero.
Nesta fase, os embriões têm entre 2 a 5 dias de vida e são escolhidos os de melhor qualidade celular; se existirem embriões excedentários, poderão ser criopreservados e usados posteriormente para novas tentativas na obtenção de gravidez.
Esta técnica pode ter variantes, como a ICSI (microinjeção espermática), mas as etapas de todo o processo são as mesmas para a mulher ou casal
Qual a garantia de sucesso da FIV?
A maioria dos casais engravida com duas a três tentativas, sendo que a taxa de sucesso varia em função das características de cada casal. De qualquer modo, a idade feminina é um fator determinante para calcular a taxa de sucesso. Em mulheres abaixo dos 35 anos a taxa de sucesso ronda os 50%; enquanto em mulheres acima dos 40 anos, a taxa de sucesso é mais baixa e fica abaixo de 20%.
Não existe uma idade máxima para fazer este tipo de tratamento; porém, em idades acima dos 43 anos as taxas de sucesso (com os próprios óvulos) são tão baixas, que os riscos do tratamento desaconselham que seja realizado.
Que exames é necessário fazer?
Os exames variam consoante a realidade clínica de cada casal, mas ambos os membros do casal têm, obrigatoriamente, de fazer o despiste de várias doenças infeciosas – os exames iniciais não podem ter mais de seis meses. A mulher deve fazer rotinas pré-concecionais e uma ecografia pélvica, enquanto o homem tem de realizar um espermograma. No caso de os exames terem alterações ou não estiverem prontos na altura de começar o tratamento, este pode ser cancelado.
Como se processa o tratamento?
Antes de iniciar o tratamento, o médico irá disponibilizar um plano de tratamento com indicações da medicação e dos dias em que irá ter de fazer ecografias de controlo. Será também prevista uma data hipotética para a colheita dos óvulos e para a transferência embrionária para o útero. A medicação será iniciada após a menstruação, sendo necessário informar a equipa de acompanhamento para agendamento da primeira ecografia de controlo.
Na primeira ecografia é verificado se a medicação está a fazer efeito, através da medição do número e dimensão dos folículos ováricos e da espessura do revestimento interior do útero – endométrio. No caso de ocorrer o efeito desejado é agendado uma nova ecografia de controlo, após a qual será, geralmente, marcada a data para efetuar a colheita dos óvulos.
A colheita dos óvulos tem a duração aproximada de 10 minutos. Nesse período, o médico realiza, num bloco operatório, a colheita dos óvulos utilizando uma agulha especial, guiada por uma ecografia vaginal. É um processo simples e rápido, que tem como objetivo a obtenção de pelo menos cinco óvulos «maduros», que serão posteriormente avaliados pelos embriologistas. Em simultâneo, o homem disponibiliza uma amostra de sémen que também é tratado e enriquecido no laboratório; só depois deste processo se juntam os gâmetas do casal – óvulo e espermatozoides – numa placa de “vidro” especial, para se gerarem os embriões. Nos dias seguintes a evolução dos embriões é acompanhada pelos embriologistas no laboratório do centro de fertilidade, e são usadas complexas incubadoras onde é quase reproduzido o ambiente in vivo onde os embriões se desenvolvem até chegar ao útero (as trompas de Falópio); após verificação da fertilização e do número e qualidade de embriões resultantes do tratamento, o casal é informado e a mulher inicia nova medicação – a progesterona.
Passados 2 a 5 dias o casal regressa à clínica para se realizar a transferência embrionária para o útero.
O processo de transferência embrionária é semelhante a uma inseminação de esperma.
De modo a facilitar o procedimento, a paciente deve estar com a bexiga cheia. Posteriormente é colocada na marquesa ginecológica – como num exame ginecológico normal – e após a introdução do espéculo, sob controlo ecográfico, o médico introduz cuidadosamente o(s) embrião(ões) no fundo uterino.
Este processo é simples e não obriga ao repouso da mulher, podendo levantar-se imediatamente e retomar a sua vida normal. Antes de abandonar o centro clínico, o casal recebe todas as indicações necessárias, inclusive de qual a medicação a fazer e quando deve ser realizado o teste de gravidez, através de uma análise de sangue – doseamento da beta HCG.
A existência de uma beta HCG positiva – valores superiores a 5 mUI/ml – resulta no agendamento de uma ecografia para confirmação da existência, localização e número de sacos gestacionais. O casal ficará informado da existência de uma gravidez evolutiva, que a partir desse momento deverá ser encarada como uma gravidez espontânea.
Quais são os riscos da FIV?
A garantia de que os tratamentos vão resultar numa gravidez nunca é de 100%, mas os riscos dos tratamentos são baixos. Ainda assim, estes devem ser entendidos por ambos os membros do casal.
O processo de uma Fertilização In Vitro envolve várias etapas com riscos distintos:
- Estimulação: a utilização de hormonas para estimular os ovários pode originar risco de estimulação exagerada levando, em casos extremos, a internamentos, cirurgia ou até risco de vida.
- Colheita de óvulos: esta é feita, através de uma punção dos ovários por uma agulha introduzida na vagina, sob sedação ou anestesia. Em certos casos pode haver lesões de órgãos abdominais, hemorragias ou infeções.
- Transferências de mais do que um embrião: pode originar risco de gemelaridade, que constitui uma gravidez de alto risco, especialmente, pela maior probabilidade de parto prematuro. O número de embriões transferidos é, geralmente, baseado na idade da mulher e no número de óvulos recuperados.
ETIQUETAS: fertilização in vitro, gravidez, infertilidade, óvulos, gâmetas, bebé proveta, crianças, fertilidade, técnicas, sofisticação, embrião, FIV, garantias