Neurorreabilitação. “Temos doentes que receberam alta do SNS com a premissa de que já não podiam evoluir”
Em entrevista, José López Sanchez, diretor clínico do Centro Europeu de Neurociências (CEN), fala do trabalho desenvolvido pela instituição no tratamento de doentes que necessitam de recorrer a neurorreabilitação. Devido à atual situação vivida no SNS, o especialista afirma que existem mais doentes a recorrer ao setor privado, tanto por não terem resposta no público, como por lhes ser dito que não seria possível progredir no tratamentos das suas doenças.

Em que se diferencia o CEN e que tipo de tratamentos oferece?
No CEN esforçamo-nos por quebrar todos os ‘limites’ impostos à recuperação do doente. Por esta razão, os tratamentos são intensivos e individualizados de acordo com as diferentes necessidades dos pacientes e estamos sempre atualizados para oferecer os melhores tratamentos baseados na evidência científica, na experiência dos terapeutas, bem como na preferência dos nossos doentes. Dispomos também de tecnologia avançada, nomeadamente de robótica, sensores, realidade virtual, neuromodulação e os últimos avanços da neurociência, aplicados à reabilitação necessária para danos cerebrais ou lesões do sistema nervoso central.
Para além das terapias intensivas, o CEN aplica várias técnicas de neuromodulação de ponta para maximizar os resultados da neurorreabilitação. Estes métodos incluem a neuromodulação farmacológica, a toxina botulínica, a estimulação do nervo vago, a estimulação elétrica (espinhal, muscular ou nervosa periférica), a estimulação magnética transcraniana e a estimulação transcraniana por corrente contínua.
Quais as patologias da maioria dos doentes que realizam neurorreabilitação no CEN?
A patologia neurológica com maior incidência no CEN é o AVC, seguida de outras como a esclerose múltipla, lesões medulares, traumatismos crânio-cerebrais, Parkinson, etc.
Nota-se mais doentes nos últimos tempos, tendo em conta a situação difícil que se vive no SNS e nas unidades convencionadas?
Infelizmente, o SNS não dispõe dos recursos necessários, tanto materiais como humanos e de tempo, para oferecer aos doentes a reabilitação especializada e intensiva de que necessitam para otimizar a sua recuperação. É por isso que existem centros privados como o CEN, para dar resposta a um serviço que não é prestado pelo sistema público de saúde. Esperemos que no futuro esta situação se altere e que o SNS possa ser reforçado.
Nestes casos, quando os doentes recorrem ao CEN por não terem resposta no SNS, em que se situação clínica se encontram? Existem atrasos nos tratamentos, pondo em causa a neurorreabilitação?
Existem perfis diferentes. Há doentes que estão em lista de espera para reabilitação, mas não podem ou não devem esperar, uma vez que o tratamento de reabilitação precoce é essencial para melhorar a recuperação. Há também outros casos de doentes que receberam alta do SNS, com a premissa de que não podem progredir mais. Até à data, verificámos que todos estes doentes, a quem foi dito que não tinham potencial, apresentaram melhorias significativas, sob um modelo de trabalho mais intensivo e especializado. Em média, a fase mais importante da recuperação é, normalmente, os primeiros 3 meses, pelo que a intervenção nessas semanas é essencial para evitar sequelas e promover o maior nível de recuperação possível.
Quais os projetos futuros do CEN para Portugal?
No CEN recebemos pacientes de diferentes países e continentes. Por existir uma boa comunicação com Madrid, Portugal representa uma excelente oportunidade para que muitas pessoas possam beneficiar dos nossos tratamentos, sem terem de se deslocar a locais mais distantes, como a Suíça ou os EUA, oferecendo a mesma qualidade de tratamento, inclusivamente a um custo inferior ao desses países. Esperamos que, num futuro próximo, tenhamos também uma delegação em Portugal, coordenada com a nossa sede em Madrid.
MJG/CG
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