2 Fev, 2024

“Mesmo que a toma do fármaco seja feita há vários anos, este pode ser a causa de um episódio de anafilaxia”

Rita Aguiar, imunoalergologista, foi a oradora da sessão "Emergência alergológica: Anafilaxia", que decorreu na manhã desta sexta-feira. Durante a sua intervenção, a especialista destacou a necessidade de agir rapidamente perante um episódio anafilático, tendo em conta os critérios de diagnóstico, para que possa ser rapidamente administrado o tratamento correto.

Aquando de uma reação anafilática, Rita Aguiar salienta a necessidade de refletir sobre os critérios de diagnóstico, uma vez que estas situações “nem sempre são graves logo no início”. A adrenalina intramuscular deve ser administrada “sempre no imediato”, mesmo se existirem dúvidas relativamente ao diagnóstico ou mesmo se o doente em questão tiver comorbilidades, for um idoso, ou até mesmo uma grávida. Além disso, deve ser apurado “o desencadeante mais provável”, procedendo à sua evicção.

Após o episódio, deve ser prescrito ao doente um auto injetor de adrenalina IM e explicar como e quando o usar. Por último, a situação deve ser registada no SClinico “para que possamos ter melhores números, melhor prognóstico, e realmente um maior conhecimento das reações anafiláticas que temos no nosso país”.

A anafilaxia é, acima de tudo “uma emergência médica com um início rápido e potencialmente fatal”. Durante a sessão foi várias vezes referida a urgência da precocidade do tratamento aquando um episódio de anafilaxia.

Estudos a nível nacional e europeu evidenciam uma prevalência estimada de 0.5 a 2%, ou seja, três pessoas em cada 100 podem, ao longo da vida, desencadear uma reação anafilática. Quanto a episódios fatais, Rita Aguiar refere que são “menos de 2% do total”.

Quanto à epidemiologia, a causa pode derivar de vários fatores. “Começando pelos alimentos, uns podem ser mais frequentes do que outros, nomeadamente o leite de vaca, o ovo e o amendoim, o peixe, crustáceos e soja”.

Rita Aguiar ressalva também que é muito frequente a anafilaxia por medicamentos. “O mais frequente ocorre com antibióticos beta lactâmicos, mas não devemos esquecer os anti-inflamatórios não esteróides (AAS, diclofenac, ibuprofeno e metamizol) e os relaxantes musculares”.

“Mesmo que tenha ingerido o alimento durante toda a vida, ou mesmo que faça o fármaco há vários anos, estes podem ser causa de anafilaxia”, sublinha a oradora.

Relativamente a fatores de risco e cofatores, que podem ser um amplificador da amplitude da reação, são referidas comorbilidades como a “asma, mastocitose e doenças psiquiátricas ou cardiovasculares em pessoas que se encontram a fazer beta-bloqueantes”. O exercício físico, uma infecção aguda, um stress emocional ou a menstruação também podem ser cofatores.

Os sintomas mais prováveis podem ser “mucocutâneos, respiratórios, gastrointestinais e também cardiovasculares, tonturas, síncope, hipotensão”. Também existem quadros muito sugestivos de anafilaxias da apresentação mais atípica, desde logo, “o súbito prurido palmar e plantar, muito frequente, e um sabor metálico”, destaca.

O tratamento passa por, em primeiro lugar, “avaliar toda da via aérea, da respiração, circulação, o estado de consciência e a pele”. De seguida, deve ser avaliada a adrenalina intramuscular, “mesmo na ausência de hipotensão ou choque”.

Quanto a medidas gerais, a especialista destacou o posicionamento e monitorização do doente, a remoção do alergénio, e, se for possível, administrar oxigénio suplementar, colocação de acesso, e colheita de triptas.

A adrenalina, que “não tem qualquer contraindicação”, deve ser administrada de modo “sempre intramuscular, na face anterolateral da coxa”. A dose varia, sendo que para crianças deve ser “0,01 miligramas por quilograma, até ao máximo de 0,3 mililitros”. Já nos adultos, a dose deve ser de “0,5 miligramas por quilograma, até ao máximo de 0,5 mililitros”. A administração pode ser repetida a cada 5 minutos, até ao máximo de três administrações.

Após o “tratamento preferencial”, que diz respeito à adrenalina, “também podem ser utilizados os anti-histamínicos e os corticoides”.

No campo da orientação do doente o tempo que deve ficar em vigilância “depende dos sintomas”. Porém, deve ser feita “uma vigilância de 8 a 24 horas, mas, no mínimo, 4 a 6 horas”, conclui.

CG

Notícia relacionada

Emergência médica: anafilaxia

Print Friendly, PDF & Email
ler mais
Print Friendly, PDF & Email
ler mais