Hospital de São João quer implementar hemodiálise domiciliária em Valongo
Além da vantagem associada à comodidade, com esta opção, o doente pode passar a fazer o tratamento com mais frequência e é libertado no centro um lugar para doentes com menor autonomia.
O alargamento de resposta através de hemodiálise domiciliária é uma das ambições do Centro de Hemodiálise que o Centro Hospitalar e Universitário de São João (CHUSJ) instalou em Valongo há cerca de um ano, revelou o diretor.
“O projeto está a andar. Estamos interessados em avançar com a hemodiálise domiciliária. É a mesma técnica usada no centro, mas feita em casa, dando autonomia ao doente”, disse o diretor do serviço de Nefrologia do CHUSJ, Manuel Pestana.
Em entrevista à agência Lusa, o diretor de um centro de hemodiálise que foi instalado no polo de Valongo, com 24 postos e capacidade instalada para tratar 140 doentes, revelou que apresentou já o projeto na “última reunião” de Centros de Recursos para a Inclusão (CRI) e que conta com o apoio do conselho de administração do São João.
Manuel Pestana conta fazer “em breve” uma proposta à tutela sobre uma resposta a hemodiálise domiciliária, que não tem uma figura jurídica concreta em Portugal. “Obriga à criação de um projeto e não é para qualquer doente. Para um doente poder assumir um tratamento desta natureza em casa tem de ter determinadas características de autonomia. Mas, quando faz o tratamento em casa não precisa de se deslocar”, referiu o responsável.
Além da vantagem associada à comodidade, com esta opção, o doente pode passar a fazer o tratamento com mais frequência e é libertado no centro um posto para outros doentes que têm menos autonomia.
Habitualmente, um tratamento de hemodiálise em centro é feito pelos doentes renais crónicos, três vezes por semana, em sessões de três a quatro horas cada.
“O facto de poder fazer todos os dias em casa tem benefícios na eficácia do tratamento”, referiu Manuel Pestana, que ainda não tem uma estimativa de quantas pessoas podem vir a ser abrangidas por este projeto, mas garante que mesmo que o número seja reduzido, a resposta justifica-se porque “há sítios em Portugal que fazem hemodiálise domiciliária, mas essa resposta é residual e o que existe está localizado na zona de Lisboa”.
“No Norte creio que não há essa resposta”, referiu o diretor.
Com “tecnologia de topo”, o Centro de Hemodiálise de Valongo abriu em 28 de abril de 2021.
Na cerimónia de inauguração, que contou com o então secretário de Estado da Saúde, Diogo Serras Lopes, foi revelado que este projeto resultou de um investimento de 900 mil euros e que serviria, preferencialmente, os doentes renais crónicos residentes em Valongo, Maia, Gondomar e Porto.
Número de doentes em hemodiálise tem vindo a aumentar
À Lusa, Manuel Pestana contou que o número de doentes tem vindo a aumentar paulatinamente. Atualmente, disse, são cerca de 80 os doentes atendidos em Valongo, no distrito do Porto.
A média de idades ronda os 70 anos, dado que se prende com o facto de os doentes mais novos serem, tradicionalmente, candidatos a transplante.
Nesta estrutura trabalham nefrologistas do São João, enfermeiros, assistentes operacionais, nutricionistas, farmacêuticos e uma assistente social.
Para aumentar o bem-estar do doente durante o período de tratamento, está prevista a instalação de auscultadores de áudio nos postos de hemodiálise, bem como mais canais de entretenimento.
O clínico contou, também, que “neste momento não há o atraso, que era tradicional, na construção de acessos vasculares aos doentes”, isto graças à colaboração com o serviço de cirurgia vascular.
“Um doente que está em vias de iniciar diálise tem de construir um acesso vascular o mais rápido possível. Este centro não foi só muito relevante por si próprio, mas foi instrumental para que o serviço pudesse vir a desenvolver, de uma forma muito bem-sucedida, um projeto que também estava um pouco adiado que era a melhor assistência em termos de construção e manutenção dos acessos vasculares de diálise”, referiu.
Diretor do serviço de Nefrologia do CHUSJ há duas décadas, Manuel Pestana acrescentou que “o hospital [de São João] passou a estar dotado de condições que lhe permitem apostar na formação de médicos nesta área”.
“Foi preciso esperarmos quase 20 anos para que as coisas pudessem concretizar-se, mas é bom ver que valou a pena esperar”, concluiu o diretor que defende que seja dada autonomia às instituições e aos profissionais.
SO/LUSA
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