Hipoxemia silenciosa. Há doentes com baixos níveis de oxigénio mas sem sintomas

É mais um efeito da Covid-19 que a comunidade médica está a tentar perceber. Casos começaram por ser descritos nos EUA mas já surgiram em Portugal, diz, ao SaúdeOnline, a pneumologista Marta Drummond.

É mais um efeito da Covid-19 que a comunidade médica está a tentar perceber em toda a sua dimensão. Há doentes com um quadro de baixa oxigenação sanguínea, mas que não apresentam sintomas de insuficiência respiratória. O fenómeno começou por ser descrito nos Estados Unidos mas já surgiram casos em Portugal.

“O que está a acontecer com alguns doentes com Covid-19 é que já estão em insuficiência respiratória e têm poucos sintomas. Não têm frequência respiratória aumentada, não fazem grande uso dos músculos acessórios da respiração, não têm falta de ar. Muitos não procuram os médicos”, explica a pneumologista Marta Drummond, do Hospital de São João, onde já foram tratados doentes com este quadro.

Apesar de os médicos ainda não saberem o que está na origem deste fenómeno, alguns especialistas sugerem que a Covid-19 poderá provocar algum dano neurológico que dificulte a perceção da falta de ar. Isto, porque, explica Marta Drummond, “estes doentes não ‘chamam ao trabalho’ os mecanismos de defesa, como o uso da musculatura acessória da respiração, como o aumento da frequência respiratória, que são gerados pelo organismo para recuperar oxigénio”.

A hipoxemia é uma baixa do valor da pressão parcial de oxigénio no sangue. “Considera-se que há hipoxemia abaixo dos 60 milímetros de mercúrio (mmHg). O valor ótimo situa-se acima dos 85 mmHg e entre 65 e 85, embora esteja abaixo do ideal, é compatível com o normal funcionamento de todos os órgãos”, refere a especialista.

Nos casos descritos, os doentes tinham valores muito abaixo de 60 mmHg, nalguns casos impossíveis de medir. Tal quadro pode levar à perda de consciência ou mesmo à morte. Abaixo dos 60mmHg podem ser necessários suplementos de oxigénio e/ou ventilação mecânica invasiva ou não invasiva. Como explica Marta Drummond, “este fenómeno pode ter implicações graves, sobretudo nos órgãos que utilizam muito oxigénio no seu trabalho, como no miocárdio, no cérebro (verifica-se uma diminuição do grau de alerta, da capacidade de concentração, da memória), nos rins, que não conseguem ter uma diurese adequada. Sem os normais níveis de oxigenação, todosórgãos acabam por funcionar pior ou mais lentamente”.

“É intrigante”, diz Jonathan Bannard-Smith, do serviço de cuidados intensivos da Manchester Royal Infirmary. “Normalmente, este fenómeno não acontece nos casos de gripe ou de pneumonia comunitárias”, referiu ao “The Guardian”. “Não percebemos se o organismo desenvolve algum tipo de compensação”, afirmou Mike Charlesworth, anestesista do hospital Wythenshawe, em Manchester.

A própria pneumonia causada pela Covid-19 é diferente. “Normalmente, a pneumonia afeta apenas um pulmão mas a Covid-19 afeta, regra geral, os dois pulmões. E é habitual ser multifocal, ou seja, existem vários focos pneumónicos nos dois pulmões, que vão confluindo”, explica a pneumologista do São João.

No Hospital de São João, os médicos estão atentos a estes casos desde que começaram a chegar doentes infetados com o SARS-CoV-2. “É avaliada a “saturação de oxigénio e a pressão parcial de 02 no sangue a todos os doentes e dada a terapêutica necessária”, sublinha.

TC/SO

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