4 Abr, 2022

Evolução da pandemia “é positiva mas lenta”. Metade dos jovens adultos já foram infetados

Já a população mais idosa “esteve pouco exposta ao vírus”, o que significa que existe ainda muita suscetibilidade à infeção nessa faixa etária, alerta o investigador Carlos Antunes.

O investigador e matemático Carlos Antunes afirmou que a tendência da evolução da pandemia de covid-19 em Portugal em termos da diminuição da gravidade da doença “é positiva”, mas muito lenta.

“A tendência de facto é uma evolução positiva, da diminuição da gravidade da doença em Portugal, como se estava à espera, só que essa diminuição é muito lenta”, disse à agência Lusa o matemático.

Como explicação para situação, o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa apontou o facto de a percentagem de pessoas que já esteve infetada nas várias faixas etárias ser muito heterogénea.

Dos 20 aos 29 anos temos já 50% da população que foi diagnosticada com covid-19, enquanto acima dos 60 anos apenas 17%”, elucidou.

Isto quer dizer que a população mais idosa “esteve pouco exposta ao vírus”, o que significa que existe ainda muita suscetibilidade à infeção nessa faixa etária.

Portanto, defendeu, “essas faixas etárias devem continuar a preocupar-se com a sua proteção individual porque ainda são suscetíveis, apesar de estarem vacinados”, sustentando que, se a efetividade vacinal contra a infeção pelo vírus SARS-CoV-2 é de 87%, existe 13% de probabilidade da pessoa mesmo estando vacinada ser infetada.

“E se olharmos para a gravidade depois de uma pessoa ser infetada, verificamos que 14 pessoas ainda morrem por cada mil casos nos mais de 80 anos, o que quer dizer que, se o número de casos aumentar nessas faixas, então temos um problema, que é o aumento da letalidade”, sublinhou.

Para o investigador, os índices de risco da pandemia devem ser interpretados de uma “forma relativa” e “não é pensar que se este índice nos diz que já estamos abaixo do nível de alerta podemos descomprimir completamente e deixar de usar a máscara”, defendeu, acrescentando: “Os índices de risco são um bocado cegos, temos que os interpretar não ao nível do risco, mas a evolução desse risco”.

“Olhando para as linhas lineares que nos dizem se estamos numa fase crítica, numa fase de alarme ou numa fase de alerta, a evolução desse indicador diz-nos que de facto estamos a baixar o índice de risco: ultrapassámos já a fase do alerta e aproximamo-nos da zona de segurança, mas ainda um bocadinho afastada dela”, vincou.

Carlos Antunes referiu que o Governo prolongou o estado de alerta até ao dia 18 de abril como medida de precaução devido a uma inversão da tendência do número de óbitos, que até 16 de março tinha estado a diminuir.

“O aumento de casos que ressurgiu em março, com alguns a dizer que podíamos estar no início da sexta vaga, foi essencialmente nas faixas mais jovens, dos 10 aos 29 anos, e causou também um aumento ligeiro, gradual, mas lento da incidência nas faixas etárias mais idosas”, afirmou.

Observou que Portugal tem uma cobertura vacinal de 92% da população e uma grande parte das pessoas que não foram vacinadas, como os menores de 9 anos, já foi infetada.

“O que quer dizer que se somarmos os que estão vacinados mais os que foram infetados nós teremos uma imunidade populacional – não é imunidade de grupo – bastante elevada e isso faz com que o vírus tenha dificuldade de se propagar de forma fácil”, justificou.

Ressalvou, contudo, que a variante Ómicron, e em particular linhagem BA.2, tem capacidade de infetar pessoas que já foram infetadas, que têm anticorpos de imunidade natural, e pessoas que têm anticorpos adquiridos pela vacina.

“Portanto, tem essa capacidade de invadir o sistema imunitário e mesmo o facto de termos uma boa cobertura vacinal não impede que o vírus tenha capacidade de infetar”, rematou o investigador.

SO/LUSA

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